2 de maio de 2010

Projeto 5 vezes Favela de Cacá Diegues será apresentado em Cannes



O projeto "5 Vezes Favela" coordenado pelo cineasta Cacá Diegues fará parte da sessão especial do festival de Cannes deste ano, que se realizará entre os dias 12 e 23 de Maio. O filme que pretende ser, segundo Diegues, um filme bonito e de boa qualidade técnica da favela para ser mostrado "lá fora"  se auto-intitula "por nós mesmos".  É a favela vista pelos favelados! Os roteiros dos cinco curta-metragens que compõem o filme  foram concebidos à partir de oficinas e workshops ministrados por vários cineastas conhecidos como Fernando Meirelles, Walter Salles, Ruy Guerra, entre outros. 


Vamos conferir se este ponto de vista "autêntico" se diferencia de alguma maneira das imagens clichês da favela que proliferam na mídia. O ponto de partida de uma certa forma já foi comprometido, já que os olhares dos favelados foram treinados pela linguagem profissional do cinema e a maquinaria pesada do cinema de "qualidade" comercial estiveram aos seus serviços. Com certeza, esses novos cineastas da favela não devem ter tido muito espaço para uma espontaneidade criativa no set de filmagem. Atrelados a tal estrutura profissional, como assim eles podem afirmar "agora por nós mesmos"? 


Veja abaixo as sinopses das cinco estórias:


DEIXA VOAR -  Cadu Barcellos – Observatório de Favelas – Cadu Barcellos
Flavio, 17 anos, é morador de uma favela carioca. Ele deixa a pipa de um amigo “voar”  e agora tem que ir buscá-la na favela de uma facção rival à que ele mora, onde a pipa caiu. Mesmo com medo da aventura, ele vai buscar a pipa, descobrindo que as pessoas da favela rival em nada diferem das de onde ele mora.
CONCERTO PARA VIOLINO – Rodrigo Cardozo – AfroReggae – Luciano Vidigal
Ainda crianças, Márcia, Jota e Ademir fazem um juramento de amizade eterna. Agora adultos, com cerca de 20 anos de idade, Jota foi para o tráfico de drogas e Ademir entrou para a polícia. O enfrentamento entre os dois pode impedir que Márcia, agora violinista, realize seu sonho de uma bolsa de estudos musicais na Europa.
FONTE DE RENDA – Vilson Almeida – Cidadela/Cinemaneiro – Manaira Carneiro & Wavá Novais
Jovem realiza seu sonho de ser bem sucedido no vestibular e entrar para uma Faculdade de Direito, mas passa a encontrar dificuldades para dar conta dos gastos com livros, alimentação e  transporte. Ele então se sente atraído a vender drogas para amigos da faculdade, lucrando com isso o suficiente para custear seus estudos.
ARROZ COM FEIJÃO – José Antônio Silva – CUFA – Rodrigo Felha & Cacau Amaral
Para conseguir construir um quarto para o filho único, os pais de Wesley, de 12 anos, são obrigados a reduzir o cardápio de casa a arroz com feijão. No dia do aniversário do pai, o menino se junta ao amigo Orelha e sai, sem muito sucesso, em busca de recursos para comprar um frango de presente para ele.
ACENDE A LUZ” – Luciana Bezerra – Nós do Morro – Luciana Bezerra
É véspera de Natal e o morro está sem luz há três dias. Os técnicos enviados pela companhia de luz não conseguem resolver o problema, os moradores seqüestram um funcionário dela e o fazem de refém, até que a luz volte. O funcionário se integra à comunidade e acaba se tornando o herói dela na noite de Natal.


Assista aqui a promo do projeto.


A iniciativa se inspirou de um outro projeto de 1961, onde cinco jovens cineastas do movimento estudantil universitário, realizaram o filme “ Cinco Vezes Favela”, produzido pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). Dirigido por Carlos Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Marcos Farias e Miguel Borges, “Cinco Vezes Favela”  se tornaria um marco do cinema moderno brasileiro, um dos filmes fundadores do Cinema Novo.







Destaques do Festival de Cannes 2010

Copie conformeOutragebig posterbig posterbig posterLes Amours ImaginairesWall Street : l'argent ne dort jamais

Matéria repugnante

Aos Editores da revista Veja:

Na matéria "A farra da antropologia oportunista" (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: "Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original".

Gostaria de saber quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma.

Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de  "montado" ou de simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei repugnante.

Grato pela atenção,

Eduardo Viveiros de Castro

UFRJ

Visite o site da Revista Intermídias