21 de novembro de 2009

Lançamento do documentário "Saberes Silvestres" de Ricardo Sá

Lançamento de Saberes Silvestres
Documentário de Ricardo Sá
Dia 28/11 às 17 horas
Auditório do Cemuni IV - UFES
Vitória - ES

15 de novembro de 2009

Cineasta português Manoel de Oliveira receberá Honoris Causa e fará conferência na UFMG


Aos 101 anos de idade, com mais de 50 filmes realizados, o português Manoel de Oliveira estará na UFMG no próximo dia 26 de novembro, para receber o título de Doutor Honoris Causa e fazer conferência como parte do ciclo Sentimentos do Mundo.

A partir das 17h, no auditório da Reitoria (campus Pampulha), Mnoel de Oliveira vai participar de mesa-redonda com o tema Palavra, imagem, utopia, ao lado do professor da UFMG César Guimarães; de Mateus Araújo, doutor pela UFMG e pela Sorbonne e professor de cinema na França, e do professor da Universidade de Roma Tor Vergata, na Itália, Aniello Avella. Em seguida, o diretor português receberá o título e iniciará a conferência Reflexões sobre a condição humana.

Admirador do cineasta dinamarquês Carl Dreyer (1889-1968) e de Glauber Rocha, que considera "inesquecível, o mais brasileiro dos realizadores", Manoel de Oliveira já lançou um filme este ano – Singularidades de uma rapariga loura, baseado no conto homônimo de Eça de Queiroz – e já prepara nova produção. Pouco conhecido do grande público no Brasil, Manoel de Oliveira é muito respeitado em países como a Itália, a França e a Espanha. A singularidade estética de suas obras faz do cineasta um dos mais originais representantes de um cinema autoral, que tem na literatura importante fonte de inspiração.

Manoel de Oliveira recebeu inpúmeros prêmios, como o Leão de Ouro nos festivais de Veneza de 1985 e 2004 e a Palma de Ouro em Cannes em 2008. Vinte de seus títulos (15 longas-metragens e cinco curtas) foram realizados a partir dos anos 1980. Aniki Bobó (1942), Acto da primavera (1963), Amor de perdição (1979), Palavra e utopia (2000) e Um filme falado (2003) são alguns de seus principais filmes.

11 de outubro de 2009

Baião de Dois: Teixeira e balairinos da favela marcam a presença brasileira no Festival de Cinema de Vancouver


A arte brasileira como de praxe é presença garantida no Festival Internacional de Cinema de Vancouver (VIFF). São dois documentários "artísticos", o primeiro produzido pela atriz Denise Dumont sobre a música popular brasileira e o segundo de uma documentarista estrangeira que acompanhou dois jovens balairinos da favela do Rio de Janeiro em competições mundiais.

O homem que engarrafava nuvens (The Man Who Bottled the Clouds), dirigido pelo pernambucano Lírio Ferreira (Baile Perfumado, Árido Movie e Cartola), é uma aula sobre música popular brasileira ao mesmo tempo que um corajoso depoimento de Denise Dumont. "Eu não conhecia meu pai"--diz a atriz no início do documentário andando pelos corredores de um cemitério. Seu pai para espanto de muitos foi nada menos que o autor de Asa Branca--um dos hinos do repertório musical popular brasileiro--Humberto Teixeira (que todos nós conhecemos!). O filme faz toda uma viagem musical sobre a ascendência do baião na música popular através dos acordes de Teixeira e a voz de Luiz Gonzaga nos idos 30 e 40 até os dias hoje. Vários cantores brasileiros (Os Mutantes, Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, etc.) e estrangeiros como David Byrne reinterpretam os clássicos de Teixeira, enquanto que paralelamente, aos poucos, e cronologicamente, vamos conhecendo mais sobre a história do baião e a consagração mundial desse estilo da música sertaneja. No entanto, fica para o final o grande desabafo e talvez a razão do documentário, Dumont em depoimentos emocionados, especialmente aquele ao lado da mãe, fala da vida boêmia do pai e a consequente ausência em sua vida. Mas se você não conhece Dumont ou se você não tem curiosidade histórica, regale-se com as sequências musicais que Lírio Ferreira e o diretor de fotografia Walter Carvalho fazem desfilar com elegância e maestria na tela.


Elegância talvez seja a palavra que defina o documentário Só Quando Eu Danço (Only when I dance) da diretora Beadie Finzi. Ela acompanha com delicadeza e bastante "zelo" a ascenção de dois jovens bailarinos--Isabela dos Santos e Irlan Santos da Silva--da favela carioca Complexo do Alemão aos palcos de competições internacionais na Europa e nos Estados Unidos. Ambos talentosos mas com sérios problemas financeiros, eles precisam serem os melhores para poderem compensar todo o esforço e empréstimos que os pais fazem para arcar com o sonho dos filhos. Bastante emocionante pelo lado brutal que a grana se torna um obstáculo para o futuro desses jovens, o filme nos deixa levar pelo drama humano de bastidores que cerca toda e qualquer competição. Talvez o filme peque um pouco pelo excesso de zelo, e por isto perca um pouco o equilíbrio, justamente naquela linha tênue que separa um documentário (da mesmice) de uma reportagem de televisão. Afinal, em tempos digitais, a diferença entre uma mídia e outra é bastante subjetiva. Será que o HDCAM (Câmera digital de alta definição) tem a sua parte nesta história?

Enquanto a cena de abertura é o bailarino Irlan dançando na laje de sua casa com a favela de fundo, na cena final não poderia ser diferente, o mesmo jovem dança no alto de um edifício em meio aos arranha-céis de Nova Iorque.
Hudson Moura

17 de setembro de 2009

Abecedário de Deleuze com legendas em português para download

O Abecedário de Gilles Deleuze é uma realização de Pierre-André Boutang, produzido pelas Éditions Montparnasse, Paris. No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da Educação. Tradução e Legendas: Raccord.

A série de entrevistas, feita por Claire Parnet, foi filmada nos anos 1988-1989. Lembrando que como diz Deleuze no início da entrevista, o acordo era de que o filme só seria apresentado após sua morte. O filme acabou sendo apresentado, entretanto, com o consentimento de Deleuze, entre novembro de 1994 e maio de 1995, no canal (franco-alemão) de TV Arte. Durante a entrevista, a cada letra do abecedário era apresentada ao filósofo uma palavra com a inicial correspondente, sobre a qual Deleuze discorria livremente.


Elenco:Gilles Deleuze e Claire Parnet
Gênero: Documentário
Diretor: Pierre-André Boutang
Duração: 158 minutos
País de Origem: França
IMDB: http://www.imdb.com/title/tt0408472
Idioma do Audio: Francês
Legendas: Português embutida
Qualidade do Vídeo: VHSRip
Ano de Lançamento: 1988
Vídeo Codec: Real video 9
Resolução: 256 X 192
Formato de Tela: Tela Cheia(4x3)

A de Animal - B de Bebida - C de Cultura - D de Desejo - E de Enfance [Infância] - F de Fidelidade
Parte 1
Parte 2

G de Gauche [esquerda] - H de história - I de idéia - J de joie [alegria] - K de Kant - L de literatura
Parte Única

M de Maladie - N de neurologia - O de opera - P de professor - Q de questão - R de resistência - S de style - T de tênis - U de um - V de viagem - W de Wittgenstein - X, Y de desconhecidos - Z de zigzag
Parte 1
Parte 2


fonte: Café Filosófico

15 de setembro de 2009

Cinema brasileiro cresce 163%, mas público só aumenta 6,6%

Dados da Agência Nacional do Cinema indicam crescimento acelerado da indústria cinematográfica, mas bilheteria não segue a mesma tendência

A produção de filmes nacionais entre 2001 e 2008 aumentou 163%, mas o público desses mesmos filmes cresceu apenas 6,6%. Os cálculos feitos a partir de dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) mostram que o crescimento da indústria cinematográfica não é acompanhado pelo número de pagantes de ingressos.

Em 2001, foram produzidos 30 filmes nacionais, enquanto em 2008 o número foi de 79. Os dados de 2009 ainda não foram contabilizados. Desde o início do século 21, o principal salto ocorreu entre 2005 e 2006, quando, respectivamente, foram filmados 45 e 72 filmes.

O público, por outro lado, cresceu menos. 7.948.065 milhões de pessoas assistiram aos filmes brasileiros em 2001, enquanto 8.476.129 foram com o mesmo motivo aos cinemas em 2008. O crescimento foi de apenas 6,6 %, representando um número abaixo do melhor ano do cinema nacional no novo milênio.

O melhor ano do século para o cinema nacional, até agora, foi 2003. Mais de 22 milhões de pessoas viram as produções realizadas por estúdios brasileiros, ou seja, 2008 representa uma queda de 61% em relação ao melhor ano. Depois do pico de 2003, a curva de público caiu e estabilizou. No entanto, em 2008 configurou-se um crescimento de 159% em relação a 1995, considerado o ano da retomada e marcado pelo filme “Carlota Joaquina”, de Carla Camurati.


Depois da TV foi a vez das Organizações Globo encamparem com o seu monopólio o mercado cinematográfico brasileiro

O sucesso de 2003 pode ser explicado pelo alto número de lançamentos de sucesso. Sete produções superaram um milhão de espectadores. São elas “Carandiru”, “Lisbela e o Prisioneiro”, “Os Normais”, “Maria, mãe do filho de Deus”, “Xuxa abracadabra”, “Didi, o cupido Trapalhão” e “Deus é brasileiro”. Os sete longas-metragens foram produzidos pela Globo Filmes, que lidera o mercado nacional.

Desconsiderando a variação, mas apenas o ano de 2001 e 2008, é como se, hipoteticamente, cada novo filme lançado no período aumentasse o público nacional em apenas 10.785 mil pessoas.

A cadeia produtiva também possui uma variação de crescimento maior no período. As distribuidoras de filmes nacionais aumentaram em 220% e o número de salas cresceu 82,25%, quando comparamos 2001 com 2008.

Causas e efeitos

O diretor José Alvarenga Jr., que estreiou "Os Normais 2" (foto acima) em agosto, acredita que um dos fatores da variação menor do público em relação à produção são as opções de restrição da linguagem cinematográfica que alguns cineastas fazem. Segundo ele, nem todos os realizadores têm o prazer de falar com o grande público.

“Eu acho, por exemplo, que apesar das boas intenções, um filme por ano se comunicou com a massa de 2003 para cá. Um! Mas é muito pouco. Para você ter um público que descobre que o cinema brasileiro é um grande prazer, você tem que ter quatro, cinco filmes encadeados. É isso que faz o cinema americano ser bom, porque daí você faz a sua escolha”, opina Alvarenga. Ele completa: “Falta para a gente ainda essa quantidade de filmes que tenham esse perfil de querer dialogar com o público grande”.

Ismail Xavier (foto abaixo), professor do curso de Audiovisual da USP, aponta outras causas para o público não crescer. “Há vários fatores: domínio do mercado por Hollywood desde os anos 1920; hábitos do público; verbas necessárias à publicidade, cada vez maiores; aspectos da vida urbana (insegurança) que mantêm as pessoas em casa; preço do ingresso do cinema – hoje, uma diversão de classe média”, afirma.

No entanto, o professor acredita que “a distribuição é mesmo o maior gargalo, mas a exibição também é um problema – muitas cidades sem cinema e a concentração dos cinemas numa certa área nas grandes cidades”.

Álvaro de Carvalho Neto, produtor do filme “Manhã Transfigurada”, fala, por outro lado, que a questão está nas artimanhas da lei de Incentivo: “tem muito autor que prefere pegar o dinheiro do governo, filmar e não distribuir o filme. Ele não vai ter prejuízo”.

Ismail não acredita que esta seja uma prática comum. Para ele, “o fato de um filme já estar pago, não significa que o cineasta não se interessa pela exibição, pois isto seria suicídio cultural”. Alvarenga concorda, pois, para ele, um diretor interessado apenas em ganhar dinheiro, não fará um filme com qualidade.

Incentivo

O vale-cultura, projeto de lei do governo Lula, que pretende levar a população de baixa renda aos espetáculos culturais, pode ser uma saída para aumento do público do cinema. Os trabalhadores até cinco salários-mínimos terão um cartão mensal de R$ 50 que poderá ser gasto com cinema, teatro, CDs ou DVDs.

“O vale-cultura é fundamental, porque um dos problemas do cinema brasileiro é o ingresso que é caro para a classe desprivilegiada. Como essa classe consegue ter acesso ao cinema? “Divã”, que eu fiz recente, está pirateado e você encontra por R$ 4 o DVD. Esse público tem acesso à cultura de uma maneira distorcida, o que é ruim para a cadeia toda, é ruim para mim como autor que não ganha copyright para alguém estar ganhando em cima de mim. O vale-cultura reequilibra um pouco esse jogo, as pessoas passam a ter acesso ao conteúdo com a qualidade que ele foi pensado”, defende Alvarenga.
Abril Online, Rafael Kato, 28/08/2009.

7 de setembro de 2009

Claudia Andujar



Lançamento do livro e da exposição fotográfica "Marcados" de Cláudia Andujar sobre os índios marcados por números, com texto de Stella Senra








Festival do Rio tem competidores fortes do cinema nacional

A lista dos longas-metragens de ficção e documentários da Première Brasil do Festival do Rio, que acontece de 24 de setembro a 8 de outubro tem nomes de peso do cinema nacional. A disputa do prêmio Redentor vai ser acirrada entre Beto Brant, Suzana Amaral, Sergio Bianchi, Sandra Werneck e Karim Ainouz e Marcelo Gomes, além dos longas de estréia de Marco Ricca, Paulo Halm e Esmir Filho (premiado curta-metragista do cultuado na internet "Tapa na pantera"). “Olhos azuis” (foto), de José Jofilly, vencedor do Festival de Paulínia, vai ser exibido hours concours. Veja aqui a lista completa abaixo.


FILMES DE FICÇÃO - COMPETIÇÃO


1) BELLINI E O DEMÔNIO, de Marcelo Galvão (90 min, SP)


2) CABEÇA A PRÊMIO, de Marco Ricca (104 min, SP)

3) DO COMEÇO AO FIM, de Aluizio Abranches (95 min, RJ)


4) HISTÓRIAS DE AMOR DURAM APENAS 90 MINUTOS, de Paulo Halm (90 min, RJ)

5) HOTEL ATLÂNTICO, de Suzana Amaral (107 min, SP)


6) O NATIMORTO, de Paulo Machline (92 min, SP)


7) O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG, de Beto Brant (80 min, SP)


8) OS FAMOSOS E OS DUENDES DA MORTE, de Esmir Filho (101 min, SP)

9) OS INQUILINOS, de Sergio Bianchi (SP)

10) SONHOS ROUBADOS, de Sandra Werneck (85 min, RJ)


11) VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO, de Karim Ainouz e Marcelo Gomes (71 min, PE)


HORS CONCOURS - FICÇÃO


12) ANTES QUE O MUNDO ACABE, de Ana Luiza Azevedo (97 min, RS)


13) INSOLAÇÃO, de Daniela Thomas e Felipe Hirsch (100 min, SP)

14) OLHOS AZUIS, de José Joffily (105 min, RJ)


DOCUMENTÁRIO - COMPETIÇÃO

1) À MARGEM DO LIXO, de Evaldo Mocarzel (84 min, SP) (foto acima)
2) BELAIR, de Noa Bressane e Bruno Safadi (80 min, RJ)
3) DZI CROQUETTES, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez (110 min, RJ)
4) REIDY, A CONSTRUÇÃO DA UTOPIA, de Ana Maria Magalhães (77 min, RJ)
5) SEQÜESTRO, de Wolney Atalla (94 min, SP)
6) TAMBORO, de Sergio Bernardes (90 min, RJ)
7) PENAS ALTERNATIVAS, de Lucas Margutti e João Valle (71 min, RJ)

HORS CONCOURS - DOCUMENTÁRIO

8) CIDADÃO BOILESEN, de Chaim Litewski (93 min, RJ)


9) ALÔ, ALÔ THEREZINHA, de Nelson Hoineff (RJ)

10 de junho de 2009

HOME na internet!


O site de vídeos YouTube exibe o primeiro filme que terá lançamentos quase simultâneos nos cinemas e na web. Estréia nas telas de cinema de 50 países e nos computadores de todo o mundo o filme "Home", dirigido por Yann Arthus-Bertrand e produzido pelo cineasta Luc Besson. Assista e baixe grátis até dia 14 de junho aqui! Existem versões em quatro línguas: Francês, Inglês, Alemão e Espanhol. Vale a pena ver nos dois suportes seja no computador quanto nas telonas de cinema! O filme é de uma beleza abstrata com um discurso demolidor sem deixar de ser didático. 

HOME - Making of Brasil




 

25 de março de 2009

Universidade do Algarve promove I Simpósio Internacional em Comunicação, Cultura e Artes

O CIAC - Centro de Investigação em Artes e Comunicação - e o "Mestrado em Comunicação, Cultura e Artes da Universidade do Algarve está a organizar o I Simpósio Internacional em Comunicação, Cultura e Artes que decorrerá no dia 18 de Abril às 10h30 no Anfiteatro 4 do Complexo Pedagógico, Campus Penha.

As intervenções dirigem-se a um público especializado na área das artes e da comunicação e têm como objectivo promover a discussão e potencializar a formação avançada na região do Algarve.

A Comissão Organizadora regozija-se com a participação de oradores convidados de universidades de reconhecido mérito internacional, tais como a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Carlos do Brasil, Simon Fraser University do Canadá, entre outras. Os oradores convidados são especialistas em comunicação e artes, com diversos livros publicados na área.

"Integrado neste I Simpósio, está ainda a ser organizado o evento Arte e Media, a realizar no Pátio das Letras no mesmo dia às 21h30. Este evento conta com o lançamento do livro Imagem: Memória e da "edição nº.9 da Revista electrónica Intermídias sobre o tema arte e política.
O livro Imagem: Memória foi organizado pela Profa. Doutora Josette Monzani da Universidade Federal de São Carlos e conta com artigos de professores do Mestrado em Comunicação, Cultura e Artes. A revista será apresentada pelo editor-chefe Prof. Doutor Hudson Moura, da Simon Fraser University, seguida de uma mesa redonda com as organizadoras da edição e professoras da UALG - Gabriela Borges e Mirian Tavares, e o artista plástico e Director da Licenciatura em Artes Visuais da UALg, Xana.

O simpósio e o evento têm o intuito de estimular o debate sobre as artes, a cultura e a comunicação na região, trazendo ao Algarve nomes de referência para discutir temas de grande relevância na contemporaneidade.

O programa do evento será divulgado brevemente. A entrada é gratuita.

Informações e inscrições:
Gabinete de Eventos da FCHS
Sra. Isabel Afonso
Email: gefchs@ualg.pt / Telefone: 289800900 ext.: 7914

11 de fevereiro de 2009

O Abecedário de Gilles Deleuze


A cláusula

Claire Parnet [1994]: Gilles Deleuze sempre se negou a aparecer na TV. Mas atualmente ele acha sua doença tão parecida com a "petite mort", da canção de Alain Souchon, que mudou de opinião. Mantive, porém, sua declaração ["a cláusula"], feita em 1988, no início da filmagem:

Gilles Deleuze [1988]: Você escolheu um abecedário, me preveniu sobre os temas, não conheço bem as questões, mas pude refletir um pouco sobre os temas... Responder a uma questão, sem ter refletido, é para mim algo inconcebível. O que nos salva é a cláusula. A cláusula é que isso só será utilizado, se for utilizável, só será utilizado após minha morte.

Então, já me sinto reduzido ao estado de puro arquivo de Pierre-André Boutang, de folha de papel, e isso me anima muito, me consola muito, e quase no estado de puro espírito, eu falo, falo ...após minha morte... e, como se sabe, um puro espírito, basta ter feito a experiência da mesa girante [do espiritismo], para saber que um puro espírito não dá respostas muito profundas, nem muito inteligentes, é um pouco vago, então está tudo certo, tudo certo para mim, vamos começar: A, B, C, D... o que você quiser.

A de Animal --------- B de Bebida

C de Cultura ------- D de Desejo

E de Enfance [Infância] ------ F de Fidelidade

G de Gauche [Esquerda] -------- H de História

I de Idéia -------- J de Joie [Alegria]

K de Kant ----- L de Literatura

M de Maladie [Doença] ------ N de Neurologia

O de Ópera ----- P de Professor

Q de Questão

R de Resistência ------ S de Style [Estilo]

T de Tênis ----- U de Um

V de Viagem --------- W de Wittgenstein

X, Y de Desconhecidos ------- Z de Zigzag


Claire Parnet


O Abecedário de Gilles Deleuze é uma realização de Pierre-André Boutang, produzido pelas Éditions Montparnasse, Paris. No Brasil, foi divulgado pela TV Escola, Ministério da Educação. Tradução e Legendas: Raccord [com modificações].

A série de entrevistas, feita por Claire Parnet (foto acima), foi filmada nos anos 1988-1989. Como diz Deleuze no início da entrevista, o acordo era de que o filme só seria apresentado após sua morte. O filme acabou sendo apresentado, entretanto, com o consentimento de Deleuze, entre novembro de 1994 e maio de 1995, no canal (franco-alemão) de TV Arte.

Deleuze suicidou em 4 de novembro de 1995. A primeira fala de Claire Parnet foi feita na ocasião da apresentação (1994-1995), enquanto que a totalidade da entrevista de Deleuze é da época da filmagem (1988-1989).



L'Abécédaire de Gilles Deleuze - Part 1 (144 minutos)


L'Abécédaire de Gilles Deleuze - Part 2 (162 minutos)

5 de fevereiro de 2009

O nacionalismo nos quadrinhos da revista A Turma do Pererê




Luís Fernando Amâncio

luis.amancio[arroba]gmail[ponto]com


Resumo

O presente artigo tem por objetivo destacar alguns elementos relativos à construção de um sentimento de nacionalismo na revista A Turma do Pererê, de Ziraldo Alves Pinto. Contemporânea de discussão e afirmação do nacional, essa HQ é a primeira de um autor só a ser produzida integralmente no Brasil e tem uma visão muito particular sobre os símbolos da pátria. Com base na sessão de cartas da revista, denominada “Correio do Moacir”, podemos pensar os enfoques, as apropriações realizadas pelo leitor e deduzir qual era seu perfil dentro desse contexto. E, ao lidar com uma fonte tão pouco convencional no estudo de História, este trabalho busca repensar essa posição das histórias em quadrinhos, ressaltando as possibilidades e alcances desse gênero impresso.


Introdução

Com mais de um século do surgimento de sua versão moderna, as “histórias em quadrinhos” continuam ocupando uma posição marginal nas pesquisas acadêmicas. Sua forma híbrida, conjugando ilustrações e textos em uma seqüência dotada de lógica, os elementos do cinema que assimila e sua posição dentro de uma indústria cultural de massa, fizeram das HQ’s (abreviação para “histórias em quadrinhos”) um gênero que flutua no limbo da indefinição.

No artigo “Quadrinhos, memória e realidade textual”[1], Moacy Cirne comenta que o desinteresse acadêmico pelos quadrinhos foi maior durante a primeira metade do século passado. Temia-se, naquele tempo, que veículos de comunicação em massa estivessem expandindo uma cultura medíocre, estagnando a população. Diante dela, ficariam submetidos àquela cultura pobre.

No máximo, algum tipo de interesse sociológico, a partir de alguma perspectiva cultural nem sempre adequada para a sua compreensão como discurso gráfico -narrativo- visual. O contexto social da comunicação de massa servia de base para críticas que lhes eram dirigidas, como se a comunicação de massa, por si só, justificasse toda uma estética cuja origem remontava ao século XIX.(CIRNE, 2004, p.1)

Michel de Certeau, escrevendo sobre a operação da leitura, argumenta contra essa idéia de que o leitor é passivo a todo tipo de informação, portanto vulnerável à qualidade da cultura que lhe é apresentada. Esta é preocupação, por exemplo, que atingiu Adorno e Horkheimer[2]. Para Certeau,

onde o aparelho científico (o nosso) é levado a partilhar dos poderes de que é necessariamente solidário, isto é, a supor as multidões transformadas pelas conquistas e as vitórias de uma produção expansionista, é sempre bom recordar que não se devem tomar os outros por idiotas. (CERTAU, 1994, p. 273.)

Por não conter narrativas exclusivamente textuais, essa mídia não se enquadra, convencionalmente, nos estudos da literatura. É bem verdade que um dos primeiros estudos críticos a respeito foi o de Umberto Eco[3], um teórico da literatura. Todavia, tal linha de pesquisa não é freqüente nessa área. Embora alguns chamem carinhosamente as HQs de “nona arte”, grande parte das faculdades de Belas Artes não as considera em suas pesquisas. Talvez isso se dê por seu caráter comercial ou por sua produção, feita com grande divisão do trabalho (é comum a separação de atividades como o desenho, o roteiro, as cores e as letras). A maior parte das análises dessa área no Brasil tem sido feita por estudiosos de Comunicação, dentre eles Moacy Cirne e Álvaro Moya, no caso brasileiro.

E a História? Como tem se apresentado diante dessa forma de mídia? Infelizmente, se a produção acadêmica dessa disciplina trabalha com essa fonte, ela ainda está longe de ser a ideal. Desde a Escola de Annales (1929) tem-se diversificado as pesquisas que utilizam diferentes tipos de documentação para reproduzir práticas cotidianas. Sobre essa diversificação, Tânia de Luca comenta que

a face mais evidente do processo de alargamento do campo de preocupação dos historiadores foi a renovação temática, imediatamente perceptível pelo título das pesquisas, que incluíam o inconsciente, o mito, as mentalidades, as práticas culinárias, o corpo, as festas, os filmes, os jovens e as crianças, as mulheres, aspectos do cotidiano, enfim uma miríade de questões antes ausentes do território da História.(DE LUCA, 2005, p. 113)

Assim, os instrumentos do historiador têm sido ampliados consideravelmente a partir da importante revista organizada por Marc Bloch e Lucien Febvre. Documentos oficiais, por exemplo, tem cedido espaço para periódicos os mais variados. E, mesmo assim, os quadrinhos continuam em posição desprestigiada.

O porquê da apática aparição das HQ’s nos estudos acadêmicos pode ser resultado de um pensamento tão preconceituoso quanto mal formulado: a idéia de que os quadrinhos são feitos exclusivamente para crianças. Pois, até hoje há quem pensa que esse tipo de comunicação só contém temáticas caras a essa faixa etária. Inserida nesse padrão, Tânia Regina de Luca, tratando do estudo das diversas formas de periódicos, cita produções sobre quadrinhos no subtítulo “Imprensa, gênero e infância”[4]. Não por acaso, a fonte primária do presente trabalho só foi encontrada na Gibiteca situada na Biblioteca Pública Infantil da Cidade de Belo Horizonte. Os arquivos e setores de periódicos das demais bibliotecas procuradas não trabalham com esse tipo de acervo. Por isso, restou a este estudante, em suas pesquisas, dividir mesas com alunos do pré-escolar que visitavam junto de suas escolas, não silenciosamente, a citada gibiteca.

Essa simplificação HQ´s / crianças deveria estar superada há longa data. Isso por uma série de fatores. Primeiramente, porque os temas abordados por esse gênero são os mais diversificados. Enquanto, por exemplo, a década de 1960 viu o surgimento dos personagens da “Turma da Mônica”, de Maurício de Souza, de temática infantil, nos Estados Unidos, em 1965, Robert Crumb publicava Fritz the Cat. Esse quadrinho possuía histórias repletas de sexo, drogas e política, temas articulados com a revolução cultural empreendida naqueles anos. O mesmo se dá com o gênero Graphic Novel, HQ’s densas dirigidas a um público adulto, e que podemos citar como exemplos O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller e Watchmen, de Allan Moore, ambas de 1986. Essas duas séries tratam de questões contemporâneas, como a Guerra Fria, em tramas que envolvem a atuação de heróis em sociedades social e politicamente caóticas. Definitivamente, não era para crianças.

A desvalorização desse gênero por sua relação com as crianças não procede, também, por outros motivos. Os autores de HQ’s, em sua imensa maioria, são adultos que, por mais que possam se dedicar ao público infantil, estão inseridos em um contexto sócio-político. Não raro, questões de seu tempo, que não necessariamente se reduzem ao universo da infância, comparecem em suas histórias. Mesmo que tente criar um mundo paralelo à realidade, o autor não deixa de estar nela. Por isso, mesmo com o objetivo de agradar a criança, pode-se perceber em muitas HQ’s ricas observações sobre um contexto histórico.

Nesse sentido, é interessante citar duas produções de quadrinhos que, embora vestidas por um ambiente infantil, apresentaram muito mais aos seus leitores. A primeira é a obra de Charles Schulz, Peanuts, de 1950, que no Brasil recebeu o nome de Charlie Brown. Essas histórias, publicadas periodicamente em jornais, tratavam, aparentemente, de temas cotidianos a um grupo de crianças e um cachorro, Snoopy. Entretanto, o modo como seus personagens encaram a realidade é muito mais complexo do que se espera de histórias para crianças. Elas são questionadoras da sociedade, que reflete em seu personagem principal com um pessimismo que pode ser entendido como resultado do Pós-Segunda Guerra Mundial.


O cãozinho Snoopy reflete questões de seu tempo e Charlie Brown estaria sempre à volta com dramas existenciais, encarnando o “típico perdedor”, motivo de chacotas e crueldades, por volta de outras crianças do grupo, como Lucy, Linus e Patty Pimentinha. A temática, para Schulz, é bastante simples. A competitividade que caracteriza a cultura norte-americana – e poderíamos afirmar cultura capitalista – faz com que estejamos mais próximos de perdedores do que de vencedores. (BONIFÁCIO, 2005, p. 55)


O herói dessas histórias não é o garoto esportista ovacionado pelos amigos e admirado pelas garotas. É, pelo contrário, o desengonçado que não se adapta aos padrões estabelecidos, exclamado um “Que puxa.” em suas desventuras.

A América Latina também teve sua versão de crianças questionadoras. Da Argentina, Quino criou a personagem Mafalda, uma garota insatisfeita com a realidade que lhe é apresentada. Representante da classe média de seu país, ela contesta o pré-estabelecido. Uma rebelada contra a estagnação de sua sociedade. Selma de Fátima Bonifácio define assim os personagens de Mafalda.

Mafalda, a garotinha tagarela, questionadora e politizada, capaz de deixar seus pais perplexos diante de suas avaliações sociológicas; Manolito, um ambicioso garoto de classe média, cujo maior sonho era se tornar um bem-sucedido comerciante; Susanita, a menina alienada e obcecada por dinheiro que almeja casar e ter filhos; e Felipe, um garotinho sonhador e idealista. (BONIFÁCIO, opus. cit., p.56)

Buscando contrariar essa tendência, o presente trabalho volta sua pesquisa para o quadrinho A Turma do Pererê, de Ziraldo Alves Pinto. Essa revista, originalmente de 1960, apresenta elementos importantes para perceber temas de seu tempo. E, por trás deles, vemos uma clara iniciativa política de pedagogia de cultura nacional.

O nacionalismo em quadrinhos: A Turma do Pererê

O autor e seu contexto

Ziraldo Alves Pinto, criador do objeto de estudo deste trabalho, nasceu em Caratinga, interior de Minas Gerais, em 24 de outubro de 1932. Embora tenha formado pela Faculdade de Direito de Minas Gerais em 1957, sua atuação profissional estivera ligada a revistas e jornais desde 1954. Os primeiros periódicos que receberam seus trabalhos foram os jornais A Folha de Minas e Jornal do Brasil, e as revistas Era Uma Vez..., A Cigarra e O Cruzeiro. Foi nesta última que apareceram, pela primeira vez, os personagens de A Turma do Pererê, em 1959.

As atividades de Ziraldo vão muito além de ser um cartunista. Constam em seu currículo charges, caricaturas, pinturas, cartazes, livros e teatros. Essa gama de atuações tão diversificadas lhe rendeu, acima de tudo, reconhecimento. Seus desenhos ganharam as páginas internacionais, no fim da década de 1960, das revistas Penthouse e Private Eye, da Inglaterra, Plexus e Planète, da França, e Mad e Graphic, dos Estados Unidos. O ano de 1969, grandes acontecimentos marcaram a vida do artista. Ganhou o Oscar Internacional de Humor no 32.º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas e o Merghantealler, prêmio máximo da imprensa livre da América Latina, patrocinado pela Associação Internacional de Imprensa e recebido em Caracas. Foi convidado a desenhar o cartaz anual do Unicef, honra concedida pela primeira vez a um artista latino. Todavia, seu maior sucesso foi no âmbito da literatura infantil. O livro O Menino Maluquinho, de 1980, foi sucesso de vendas e de receptividade, sendo adaptado para a televisão, cinema e teatro.

Seria inconveniente tentar detalhar a biografia do autor, afinal ele é uma figura de importância nos meios de comunicação até hoje. Interessa, sobretudo, ressaltar sua participação na fundação e na direção do periódico O Pasquim, importante opositor ao regime militar. Seu engajamento político se dava principalmente contra a censura que se abateu no país a partir de 1964. Participação esta que resultou em uma prisão em 1968, assim que lançado o AI-5.

Como se pode observar nessa trajetória brevemente traçada, o criador dA Turma do Pererê é um artista reconhecido e de envolvimento político flagrante. A pergunta que se faz aqui é: será que, ao publicar um título infantil, o autor isolou todo esse furor político e preocupação com os rumos do país ao produzir histórias para as crianças?

Para pensar essa questão, observemos o ambiente dos primeiros anos da revista. A decisão de transformar as histórias que apareciam em O Cruzeiro em uma revista separada foi pioneira. Nunca se havia produzido no Brasil uma revista em quadrinho de um só artista. Além disso, era um sonho de Ziraldo ter uma publicação voltada para as crianças.

O cenário político também estava muito agitado. Presidentes anteriores haviam abusado do carisma para ter popularidade nas amplas camadas sociais. Além de uma simpatia, eles usavam de uma posição de “pai de todos”. Nesse “todos”, portanto, podemos entender uma “nação”, unificada, com seu centro na recém-inaugurada Brasília. O país vivia um clima de patriotismo, de afirmação do nacional. A seleção de futebol havia vencido pela primeira vez o mundial, em 1958. No governo constitucional de Getúlio Vargas(1951-1954), o petróleo fora garantido como “nosso”. A discussão acerca da limitação poder das multinacionais estava presente, acentuada no governo de João Goulart, entre 1963 e 1964.

Esses anos de intensa movimentação política foram de agitação também no mercado brasileiro de quadrinhos. Durante os governos de Jânio Quadros e João Goulart, houve uma campanha que ficou conhecida como “O Quadrinho é nosso!”. Nela, profissionais dessa área reivindicaram uma “nacionalização dos quadrinhos”, ou seja, a reserva de parcela significativa do mercado para produções nacionais. Desde os primeiros tempos da publicação sistemática de quadrinhos no Brasil, nos anos 1930, com Adolfo Aizen e seu Suplemento Juvenil[5], sempre fora muito mais barato comprar os direitos de títulos estrangeiros. As negociações com os distribuidores era quase informal, sem grandes burocracias e taxas exorbitantes.

Contando com grande adesão dos envolvidos na produção de HQ’s no Brasil, a campanha pela nacionalização desse gênero foi contemporânea ao lançamento de Pererê. O sucesso desse título era um exemplo a ser seguido de um gibi de qualidade na abordagem de temáticas nacionais.

Críticos dos quadrinhos e intelectuais a saudaram como um exemplo sadio de “brasilidade” e de vida inteligente nos quadrinhos, que deveria ser copiado por todos os editores. Mais que isso, entenderam que a revista era a demonstração clara de que a idéia de nacionalizar a produção dos gibis contava com a aceitação dos leitores. (GONÇALO JR., 2004, p.327)

Na segunda fase da revista (1975), quando ela voltou a ser publicada depois de dez anos, era o clima de ufanismo quem imperava. Eram anos da ditadura militar, no governo Geisel (1974-1978). Exaltava-se o “Brasil grande”, com obras faraônicas sendo construídas, a exemplo da Transamazônica, expectativas em torno da seleção brasileira, que já não era a grande equipe de antes, e a crença de que o país crescia cada vez mais – embora o “milagre econômico” já se mostrasse bem pouco excepcional ao enfrentar a crise do petróleo. Era um tempo de otimismo oficial, perseguindo o objetivo da integração nacional.[6]

Os símbolos nacionais

Dado esse panorama, fica fácil perceber como A Turma do Pererê se insere nesse contexto. Segundo Feijó, ele é a mais nacional de todas as experiências quadrinísticas[7]. O quadrinho trazia personagens muito vivos no imaginário popular. A começar com aquele que dá nome a turma: o Saci Pererê! Figura marcante do folclore popular, as lendas sobre ele são abundantes no interior do país. Com seu cachimbo espalhando fumaça, um gorro vermelho, saltando com sua única perna, o Saci tem seu nome ligado a travessuras das mais perversas. Sua locomoção, em um redemoinho, espalha o terror nas fazendas, conforme os ditos populares.

Nos desenhos de Ziraldo, o Saci é retratado fisicamente de acordo com o folclore. Mesmo elementos pouco educativos, como o cachimbo – uma vez que o Pererê é uma criança, supõe-se que não deveria fumar – ou a não utilização de roupas, são transpostos para os quadrinhos.

Entretanto, a personalidade de “capeta” das histórias contadas oralmente, não migrou para o gibi. O Saci de Ziraldo vive como uma criança normal, apesar de viver na floresta e não ter uma família. Mesmo assim, existe a Mãe Docelina, que enche o garoto de mimos. O personagem folclórico aparece, na maior parte do tempo, brincando com os amigos e se envolvendo em situações cômicas.

O Saci de Ziraldo é “boa-praça”. Faz suas travessuras, mas não prejudica ninguém, é um amigo confiável e gosta muito de ler, literatura ou quadrinhos – o que estabelece uma diferença marcante, pois letrado o personagem da cultura popular (oral) definitivamente não é. (SRBEK, 1999, p.143)

Quem faz as vezes de “saci” dos contos populares, ou seja, as maldades, é Rufino, seu antagonista na história, e sua turma.

O outro personagem que divide o papel principal na maior parte das histórias com o Pererê, é Tininim, um índio também criança. Sua caracterização é de um índio típico, com cabelo em cuia, pés descalços e nudez quase total. Embora não apareça sua família, sabe-se que é neto do cacique dos Parakatokas. Em algumas de suas histórias, ele aparece como uma criança neurótica, achando que é o fim quando, por exemplo, uma bolinha aparece no seu rosto – o que descobre ser uma caxumba – ou quando vê alguns fios de cabelo caindo.

Compõe também a turma alguns animais, todos peculiares na vida rural brasileira. São eles: o macaco Alan, o jabuti (carteiro) Moacir, o tatu Pedro Vieira, o coelho Geraldinho e a onça Galileu. Como os respectivos nomes indicam, eles participam das histórias tal como animais de fábulas: falando e interagindo com seres humanos. Além deles, está sempre presente o Professor Nogueira, que é uma coruja, esclarecendo as dúvidas que venham a aparecer.

As histórias contam também com as garotas Boneca de Piche e Tuiuiú, namoradas, respectivamente, do Saci e do Tininim. Elas formam, junto com a Mãe Docelina, o time feminino das histórias da Turma do Pererê. Entretanto, as garotas são disputadas por Rufino e Flecha Firme, chefes da Turma do Rufino, rivais dos protagonistas. Nesse grupo, existe um equivalente da mesma espécie da trupe principal. Além deles, o Cumpadre Tunico também é o vilão em algumas histórias, pois tenta caçar a onça Galileu. Todavia, as histórias com dualismo bem/mal são minoria, sendo a maior parte dos roteiros girando em torno de situações simples e gags verbais, visuais ou de situação.

Apresentados os personagens, podemos perceber a brasilidade latente nas histórias. Todos eles representam algo nacional. O Saci é o expoente maior dos nossos seres folclóricos. Além de ser a personificação de longa tradição oral, tem que se observar que é um personagem negro ocupando o centro das histórias da Turma. Ora, em tempos em que o Mickey Mouse e Luluzinha eram figuras freqüentes no cotidiano das crianças, quão distinto não era uma história com um negro protagonista! Hoje, quase cinqüenta anos depois do surgimento da revista, ainda se discute o papel de coadjuvante dos personagens afro-descendentes nas telenovelas. Em outras áreas, como o cinema e a literatura, isso tem sido quebrado há poucos anos.

Junto com o Pererê, o outro personagem destacado é Tininim, um índio. Os demais integrantes da turma são animais muito freqüentes na realidade brasileira. Não são camundongos, coiotes e papa-léguas, patos marinheiros ou milionários. São onças, jabutis, tatus e corujas. Não pretendo colaborar com a visão de Ariel Dorfman e Armand Mattelard, em seu Para ler o Pato Donald[8], que leva aos extremos a acusação de imperialismo ideológico, especificamente no caso dos desenhos de Walt Disney. Entretanto, não se pode negar que o consumo dessas produções norte-americanas provoca uma difusão de elementos arraigados na cultura daquele país. Uma infância regada a excessivas doses do mundo Disney pode trazer mais identificação com a neve do que com nossas matas tropicais, mais respeito pela Estátua da Liberdade do que pelo Cristo Redentor... É essa lógica que Ziraldo busca ao menos contrabalancear, com essa revista recheada por símbolos brasileiros.

A HQ resgata, também, um cotidiano rural, em um momento em que a urbanização no Brasil crescia notadamente. Desde a década de 1930 o país passava por um período de aumento da produção industrial, o que aumentava a urbanização. Todavia, esse processo encontrou seu apogeu nas décadas em 1950/60, sendo símbolo da industrialização e seu grande fomentador, o presidente Juscelino Kubitschek (1956-1960) e seu Plano de Metas[9].

As histórias dessa revista do Ziraldo se passam na Mata do Fundão, floresta fictícia. Próxima a ela se encontra uma vila, onde moram os personagens que não são da mata. Representam esse tipo “caipira”, a Mãe Docelina, com seus pés-de-moleque inigualáveis, e o Cumpadre Tunico, fazendeiro que quer caçar a onça que ronda sua propriedade. Ambos têm a fala marcada pela linguagem coloquial do interior.

Para examinar mais a fundo essas referências a símbolos nacionalistas, analisarei posteriormente algumas histórias do gibi.

O quadrinho em suas páginas.

Infelizmente, não tive acesso à primeira fase da revista, quando ela foi publicada de 1960 até 1964. Como foi descrito anteriormente, nenhum dos arquivos pesquisados lidam com quadrinhos como documentos convencionais. Na Gibiteca, encontrei números da segunda fase da revista, publicada pela Editora Abril de julho de 1975 até abril do ano seguinte.

Essa editora lidava com periódicos variados, dentre eles, por exemplo, a Revista Veja, semanário de informações diversas. As crianças eram o público alvo de inúmeros títulos, sendo eles presentes na maioria nas páginas de publicidade de A Turma do Pererê. Alguns deles eram: os gibis de Pernalonga, Bolinha e Luluzinha, A Pantera Cor-de-Rosa, e títulos da Disney, como O Pato Donald, Os Sobrinhos e Mickey. Além deles, aparece a Revista Diversões Juvenis, com jogos e curiosidades, em diferentes temas mensais, entre eles Jornadas nas Estrelas, Birutéia e Os monstrinhos e, no mês de dezembro, o Papai Noel A publicidade de brinquedos da marca Gulliver contava com uma página em cada edição para exibir suas novidades.

Outros públicos eram cobiçados com os anúncios, também constantes em cada número, do Instituto Universal Brasileiro e do Instituto Monitor. Ambos apresentavam cursos técnicos profissionalizantes e suas vantagens. É interessante observar que, até hoje, nas publicações desse gênero, constam publicidades deste primeiro instituto, em moldes muito parecidos com aqueles da década de setenta. Também consta, em alguns números de A Turma do Pererê, propagandas da Weril – Indústria Brasileira de Instrumentos Musicais. Embora não seja a maioria, percebe-se por esses anúncios que outros leitores, além das crianças, eram esperados na revista.

O formato deste gibi é o chamado “formatinho”: 13,5 por 19 cm. As páginas são de papel jornal, grampeadas. Essa estrutura física predomina nas revistas desse gênero ainda hoje. Cada edição contava com sessenta e quatro páginas.

O nacionalismo nas histórias do Pererê e sua turma.

Examinada a parte física e as páginas publicitárias, examinemos agora o interior da revista. Ela era dividida em várias histórias, sem relação de continuidade entre elas ou tema específico para cada número. Não havia também uma concentração de atenção para determinados personagens, sendo raro algum deles ter, por exemplo, mais de duas histórias em cada número. A quantidade de histórias por revista variava entre seis e oito, mais uma de três quadros, ocupando a última página.

As aventuras dA Turma do Pererê giravam em torno de situações cotidianas na vida dos habitantes da Mata do Fundão. O Cumpadre Tunico aparece em algumas revistas com planos para capturar o Galileu, em sua obsessão pela onça. Tal como o Coiote ou o Frajola, tentando pegar, respectivamente, o Papa-Léguas e o Piu Piu, ele esboça planos os mais arquitetados. Todavia, também em um destino comum aos personagens da Warner, ele só consegue falhar.

Em outras histórias, o roteiro gira em torno de disputas entre as turmas do Pererê e do Rufino. Essas, conforme é respondido a uma leitora na edição de dezembro de 1975, são inspiradas nas rivalidades infantis com a “turma da rua de cima”, a “sala do lado” na escola, o “outro bairro”... Além delas, problemas e invenções do Tininim, Pererê e dos outros personagens da Mata são exploradas, sem um padrão muito claro.

Se nas características dos personagens já fica explícita a proposta de reunir elementos nacionais, os enredos de algumas histórias demonstram isso ainda mais marcadamente. É o que podemos observar em “Um pai para o Saci”, que abre a revista de agosto de 1975 dA Turma do Pererê. Nela, é véspera do dia dos pais e todos na Mata estão carregando os presentes que vão entregar no dia seguinte. Ao avistarem o Saci, Tininim e os demais perguntam a ele se já escolheu o que vai dar para o seu pai. Todavia, ele se assusta, pois tinha esquecido que tal data havia chegado. Por isso, o Pererê sai em busca de um presente adequado ao seu pai. Então, eis que os seus amigos se lembram: o Saci não tem pai! Ou, se tem, eles não sabem quem é. Encabulados, eles vão até o Professor Nogueira indagá-lo sobre quem é o pai do Saci. Este dá a seguinte explicação:

Antes do Brasil ser descoberto, os índios já conheciam um passarinho chamado Iaci Iatererê! Era um passarinho preto, que pulava de árvore em árvore, e pousava nos galhos com uma perninha só! Ele tinha a cabeça vermelhinha e era ventróloco1 Ele cantava de um lado da mata e se ouvia do outro! Assim, ele fazia o índio caçador se perder na floresta e com isso, o índio não conseguia caçar direito. Para o índio, o Iaci Iatererê era um diabinho protetor da caça.

Depois vieram os escravos negros... E aí, quando aprenderam as histórias da terra, misturaram tudo... Transformaram o pássaro num negrinho de uma perna só! Sua cabecinha vermelha, numa cabeça de fogo! E já que tinha recriado o Iaci Iaterê do seu jeito, o velho escravo contador de histórias botou um pito igual ao seu na boquinha dele.

Depois foi a vez do português que transformou a cabeça de fogo do negrinho num gorrinho daqueles dos pescadores de Nazaré. E aproveitando que o escravo, na sua língua diferente, já tinha arrevesado o nome do Iaci Iaterê todo, batizou-o com o nome de Matinta Pereira!

Depois, reorganizaram tudo e, do português, do negro e do índio guarani, nasceu esse menino mágico que hoje nós todos chamamos de Saci Pererê! (PINTO, Ziraldo Alves, Agosto de 1976, p. 5-9)

Depois de escutar o professor, todos concluem que o Saci é filho do “povo brasileiro”, pois aquelas “três raças hoje viraram uma só”. No último quadrinho da história, o Pererê está presenteando uma fila imensa de pessoas, uma representação de todos os brasileiros. Esse parece ser o Brasil que Ziraldo quer desenhar: um país cuja diversidade se reúne na formação de um povo unificado.

Na história seguinte, “O Inventor”, protagonizada pelo tatu Pedro Vieira, “heróis” brasileiros são lembrados. Ao ver o macaco Alan andando de “isqueite” (em outras revistas também há esta grafia abrasileirada de termos do inglês), ele resolve inventar algo parecido para ele, só que com mais segurança. Sua invenção, porém, é um patinete, no qual ele anda orgulhosamente. Nesse momento, ele diz estar correndo feito o “Fittipaldi”, em menção ao bi campeão mundial de Fórmula 1. Entretanto, ao saber que sua invenção não era autêntica, Pedro Vieira comenta, desolado, que não é um “Santos Dumont”. Portanto, ao buscar a referência a um importante inventor, não se recorre a Leonardo da Vinci ou Thomas Edison. É o brasileiro inventor dos aviões quem é citado.

Nessa mesma revista, na história “Tininim, o solitário”, um personagem muito próximo do cotidiano da vida rural aparece. A turma percebe que o Tininim tem andado tristonho e sozinho, se escondendo deles. Preocupados com a situação do bom amigo, eles começam a espioná-lo. Embora não consigam descobrir o que esta acontecendo, eles descrevem a situação para a mãe Docelina, que não exita na resposta: é bicho-do-pé. Tininim está criando um bicho-do-pé, se regozijando com as coceiras que este proporciona. Embora para as gerações urbanas tal bicho não represente nada, aqueles criados na roça sabem bem do que se trata esse animalzinho que surge próximo das criações de porco e cresce no pé das pessoas. No final da história, todos terminam em um chiqueiro, tentando pegar também um bicho-do-pé.

Outras referências a personagens típicos são dispostas nas revistas posteriores. Para citar alguns, temos, no número de setembro de 1975, em “A doideira maior”, alguns personagens lendo a revista “Tico-Tico”, uma das pioneiras na publicação de quadrinhos no Brasil, publicada de 1905 a 1962. Já em A Turma Pererê do mês de novembro, em “A mistura”, Tininim acredita-se envenenado por ter tomado “manga com leite”, alusão ao dito popular que diz que essa combinação é fatal. Já em janeiro do ano seguinte, “Saci na janela” mostra o Pererê em uma janela vendo as pessoas passar, costume muito comum em cidades do interior.

Com todas essas referências a situações, personagens e lendas tão brasileiras, A Turma do Pererê destoava da maioria das revistas em quadrinhos lançadas no Brasil. Basta lembrar que as outras revistas anunciadas nas páginas publicitárias são todas norte-americanas. Embora a Turma da Mônica, de Maurício de Souza, seja o gibi nacional mais bem sucedido e seu personagem Chico Bento também tenha suas histórias ambientadas na zona rural, não encontramos ali um sentido tão nacionalista quanto na revista de Ziraldo.

A Recepção

A partir do número seis, A Turma do Pererê apresentou uma sessão chamada “Correio do Moacir”. Utilizando o nome do carteiro jabuti, esse espaço apresentava resumo de algumas cartas enviadas para a revista seguida por um comentário da redação. Embora seja um recorte um tanto específico, buscaremos investigar um pouco do perfil dos leitores da revista através desse meio.

Apesar de neste mesmo “Correio do Moacir” do número nove, responder a um leitor que a distribuição da revista é feita em todo o país, há uma clara concentração regional das cartas publicadas. Das trinta e duas comentadas no espaço, nas edições de 6 a 10, uma vem do sul (Rio Grande do Sul), três do nordeste (Bahia e Pernambuco), uma do Centro Oeste (Distrito Federal) e vinte e quatro do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais). Duas eram internacionais: uma de Nova Iorque e outra de Lisboa, ambas de brasileiros que receberam a revista em quadrinho de presente de algum amigo.

Raramente o leitor identifica sua idade nessas cartas. Entretanto, pode-se imaginar que a maioria dos correspondentes sejam crianças, pela temática das cartas. Nelas, os leitores dizem, geralmente, seu personagem favorito, dão palpites sobre outros personagens e sugerem histórias. É o caso, por exemplo, de Júlio Figueroa, de Belo Horizonte, que na revista nº 7 diz apreciar o Alan e seu talento musical. Nesse mesmo exemplar, é citada a carta de Euclides Parreiras, de São Paulo capital, que pergunta se o cachimbo do Saci apaga embaixo d’água.

Porém, outras cartas indicam leitores adultos. Maria Cristina Andrade, que escreve de Nova Iorque, tem a carta comentada no nº 6, em que diz ser fã desde a antiga publicação da revista. No nº 8, há um leitor que se identifica como “Brasileirinho Roxo”, paulistano, que elogia o nacionalismo de A Turma do Pererê. Porém, ele critica um erro em uma história curta que mostra a fronteira entre São Paulo e Mato Grosso ignorando o rio Paraná. Na revista seguinte, Petrônio Nunes Filho, de Brasília, tem trecho de sua carta publicada onde elogia, com vocabulário rebuscado, a “revista 100 % feita no Brasil, com aquele gostinho de patropi”. Também é interessante o relato de Anderci Moreira, de São Bernardo, estudante de engenharia, que na revista nº 6 diz gostar da revista e oferece algumas idéias para histórias, alegando que estudante necessita “faturar um”.

Podemos perceber, nessa rápida análise, um pouco do modo como o público recebeu a revista. Se a grande maioria das cartas relata o interesse de crianças com as situações envolvendo os personagens, notamos que, por outro lado, os olhares sobre a revista não se resumiam a estes. De fato, o público alvo era o infantil, afinal, parte da motivação da publicação era uma temática nacional/ pedagógica. A Turma do Pererê oferecia a uma geração mergulhada em produtos culturais estrangeiros, uma alternativa de “brasilidade”. Entretanto, por mais que alguma publicação seja dedicada a determinado público, não significa que ela ficará restrita a ele. Por isso, é fácil imaginar que não eram poucos os adultos que, seja espiando nas leituras dos filhos, ou comprando, junto com o jornal, o gibi para o intervalo do serviço, se deliciavam com as histórias de Tininim, Pererê e companhia.

Conclusão

O que podemos concluir, ao final deste trabalho, é que, se ainda há preconceito ao lidar com revistas em quadrinho na disciplina de História, já é tempo de acabar com ele. O tempo em que se pensava em fontes privilegiadas para o estudo do passado está ultrapassado. HQ’s são importantes exemplares da indústria cultural, afinal elas possuem um número considerável de consumidores e, mesmo aqueles que não se dão ao trabalho de comprá-las, estão vulneráveis a leituras no consultório do dentista, no cabeleireiro, no jornal, na internet...

E, a partir do momento em que se lê um gibi, o leitor está recebendo informações oferecidas pelo(s) autor(es). Muitas vezes essas informações vão além do entretenimento puro e simples. É o caso de A Turma do Pererê, que junto com a diversão injetava no leitor elementos nacionalistas, com personagens e situações típicas do Brasil e da sua diversidade. Essa mensagem, no campo dos quadrinhos, tem um significado diferente, pois se trata de uma área em que a produção estrangeira sempre fora predominante. Foi com títulos consagrados mundialmente que esse mercado foi estabelecido no Brasil. A revista do Ziraldo é contemporânea de um esforço para mudar essa situação, sendo o maior símbolo da campanha “O Quadrinho É Nosso!”, durante o governo de Jânio Quadros e João Goulart.

Essa espécie de “pedagogia nacionalista” presente nas histórias desse gibi foi divulgada principalmente para crianças, uma vez que fazia parte de uma série de títulos dedicada a esse público. Tal fato faz sentido, uma vez que elas são os maiores consumidores de gibis.

Entretanto, algumas publicidades na revista eram dedicadas ao público adulto. Isso demonstra que havia a expectativa de que leitores de outras faixas etárias consumissem a revista. O que aconteceu, conforme demonstram algumas cartas da sessão “Correio do Moacir”.

Por tudo isso, podemos entender a importância da mensagem nacionalista de Ziraldo. Embora não tenha sido tão direta, como em O Pasquim, ela foi ouvida. Os personagens de A Turma do Pererê continuam ativos, seja na adaptação para a TV, nos livros com coletâneas de histórias ou nas leituras que fazem as crianças visitando a gibiteca com suas escolas.

Fonte Impressa:

PINTO, Ziraldo Alves. A Turma do Pererê, São Paulo: Editora Abril, Julho/1975 – Abril/ 1976.

Referências Bibliográficas:

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Luís Fernando Amâncio é graduando em História pela Universidade Federal de Minas Gerais. Cursa o 7º período e pesquisa na área de “História e Linguagens”, com enfoque em Cinema, Histórias em Quadrinha e industria cultural de um modo geral.

Artigo inédito, publicado no Blog Intermídias no dia 5 de fevereiro de 2009. Todos os direitos reservados. {Referência para citação deste texto: Amâncio, Luís Fernando. "O nacionalismo nos quadrinhos da revista A Turma do Pererê". In: Blog Intermídias, 05/02/2009, [http://intermidias.blogspot.com/2009/02/.html] data de acesso: }.




[1] CIRNE, Moacy, 2004.

[2] Vide: ADORNO, Theodor W. & HOKHEIMER. Dialética do esclarecimento; fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985.

[3]Me refiro a ECO, Apocalípticos e integrados. São Paulo: Perspectiva, 1970, 388p.

[4] DE LUCA, opus. cit., p.128.

[5] Sobre as primeiras publicações de histórias em quadrinhos e a consolidação delas no Brasil, ver: GONÇALO JR., 2004.

[6] Sobre o ufanismo desse período, ver: FICO, Carlos, 1997.

[7] FEIJÓ, 1997, p. 62.

[8] DORFMAN, A.; JOFRE, M., 1973.

[9] Símbolo do que foi chamado de nacional-desenvolvimentismo, esse plano abrangia 31 objetivos, divididos nos seis grupos: energia, transportes, alimentação, indústrias de base, educação e a construção de Brasília, chamada de meta- síntese. Nesse governo, o Estado arcou com a infra-estrutura como incentivo à industrialização, mas assumiu a necessidade de abertura à necessidade de atrair capital estrangeiro. (FAUSTO, Boris, 2004)

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