17 de agosto de 2007

Milton Santos e o seqüestro da globalização

Última entrevista do geógrafo é o eixo do filme, que aborda os dilemas da globalização
Por Fábio de Castro (FAPESP)
17/08/2007

Uma perspectiva periférica da globalização, a partir do olhar clarividente de um dos maiores intelectuais brasileiros. De acordo com o cineasta Silvio Tendler, esse é o foco do documentário Encontro com Milton Santos ou O mundo global visto do lado de cá, que estréia nesta sexta-feira (17/8) em salas de São Paulo, Rio de Janeiro, Santos e Campinas.

O filme, que em 2006 venceu o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro na categoria júri popular, tem como eixo condutor um registro precioso: a última entrevista do geógrafo Milton Santos, realizada em janeiro de 2001, cinco meses antes de sua morte.

“O filme não pretende ser uma síntese do pensamento de Milton Santos. É um diálogo comigo, no qual ele conduz seu brilhante raciocínio sobre a globalização, enquanto eu procuro ilustrar esse pensamento com exemplos na vida real”, disse Tendler.

Entre cenas de protestos de cocaleiros bolivianos, passeatas do Fórum Social Mundial e jovens artistas do hip-hop nas periferias brasileiras, o filme se sustenta na crítica do geógrafo aos rumos do processo de globalização.

“Ele dizia que nunca houve no mundo condições tecnológicas tão boas para o desenvolvimento da humanidade. Só que essas condições foram seqüestradas por um grupo de empresas. Cabe, portanto, à humanidade redirecionar a globalização para que ela seja conveniente para todos”, disse Tendler.

O documentário começou a nascer em 1995, quando o cineasta filmava o média-metragem Josué de Castro – Cidadão do mundo. “Fui a Paris colher um depoimento de Milton Santos, que tinha uma relação próxima com Josué. Não o conhecia ainda. Foi a entrevista mais difícil da minha vida para cortar, porque tudo o que ele dizia era brilhante”, contou.

Cineasta e geógrafo se encontraram em diversas ocasiões, quando Tendler propôs a Santos uma entrevista sobre globalização. O professor o recebeu em sua sala na Universidade de São Paulo, no dia 4 de janeiro de 2001.

“Ele já estava gravemente doente, mas me recebeu e deu uma longuíssima entrevista. Foi um depoimento muito forte, que marcou a minha vida para sempre. Quando terminei, vi que aquilo era um filme por si só”, destacou o cineasta.


Estudo e intuição

Tendler conta que fez o filme com poucos recursos. Foi de ônibus do Rio de Janeiro, onde mora, a São Paulo, para fazer a entrevista. Levou um único assistente e uma câmera digital de tecnologia defasada. “Em um determinado momento, comecei a ficar preocupado com o contraste entre a genialidade de tudo o que ele me dizia e a indigência da minha estrutura”, afirmou.

Na própria entrevista, no entanto, o geógrafo fez uma afirmação otimista: “coisas fundamentais podem ser feitas com parcos recursos”. “Ilustrei isso mostrando meninos de uma área pobre do Rio de Janeiro que fizeram um lindo filme com uma câmera barata, improvisando travellings em uma cadeira velha de escritório e usando um cabo de vassoura como tripé”, contou.

Partidos políticos que perdem a ideologia, crises da democracia, desestruturação das esquerdas: tudo o que Santos dizia em 2001 foi emergindo na realidade brasileira e mundial ao longo dos anos, de acordo com Tendler. Para ele, o geógrafo era um clarividente, alguém que associa o estudo e a intuição para mergulhar na complexidade da realidade e fazer emergir uma visão cristalina.

“O pensamento dele é muito complexo e ele não tenta simplificar as coisas. Propositalmente, como se fosse um mágico, vai nos conduzindo às suas idéias. O filme é um diálogo, mas não usei esse termo no título. Preferi ‘encontro’, porque não tenho estatura científica para me colocar no patamar dele”, declarou.

Uma vez pronta a entrevista, o restante do processo de filmagem e edição durou cinco anos. “Como quase todos os meus filmes, é um quebra-cabeça. Não tento simplificar o processo de produção, nem tenho pretensão de inovar na linguagem cinematográfica. O objetivo é me comunicar com os espectadores”, declarou.

Tendler é autor de longa-metragens como Os Anos JK – Uma trajetória política (1980), Jango (1984), Castro Alves – Retrato falado do poeta (1998) e Glauber – Labirinto do Brasil (2002).





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13 de agosto de 2007

"Jogo de Cena" de Eduardo Coutinho é atração de Gramado

11 longas-metragens começaram no domingo (11/08) a disputa por troféus Kikito no 35º Festival de Cinema de Gramado. O festival, que sempre foi considerado o Oscar brasileiro, pelo glamour do evento, agora quer mudar esse perfil para ser reconhecido como um festival de cinema com filmes de qualidade. A primeira exibição pública de "Jogo de Cena" (foto abaixo), novo filme de Eduardo Coutinho, é o maior sinal dessa mudança, promovida pelo crítico José Carlos Avellar, contratado pelo festival desde o ano passado para reformular o perfil de sua programação. Mesmo com a mudança, existe ainda a preocupação de utilizar o festival como principal plataforma do turismo da cidade de Gramado e por isso, as estrelas globais são muito bem-vindas. Em seu novo filme, o documentarista Eduardo Coutinho investiga a fronteira entre documentário e ficção, alternando a participação de mulheres anônimas e de atrizes (como Marília Pêra e Clarice Niskier), que reinterpretam para o cineasta cenas de suas vidas.

A opção por apenas exibir filmes em película e a mudança na sessão de curtas-metragens, colocando-a fora do "horário nobre" do Festival estão sendo criticadas por cineastas e críticos. Por conta desse posicionamento do evento, Gustavo Spolidoro, nome importante da cena curta-metragista gaúcha, nunca pensou em submeter "Ainda Orangotangos", seu primeiro longa-metragem, recém-concluído, à comissão de seleção do festival. Ele considera que seu filme, uma experiência narrativa, rodada em um único plano-seqüência e registrada em suporte digital - é incompatível com o modelo de Gramado. Mesmo com a curadoria de Luiz Carlos Avellar, que pretende retomar o papel de vanguarda do evento, o festival ainda sofre com a fama de querer ser o Oscar brasileiro, com muito glamour e poucos filmes de expressão. Para essa edição, a grande promessa é "Olho de Boi" (foto ao lado), dirigido pelo cearense Hermano Penna, que em 1983 saiu de Gramado com cinco Kikitos - inclusive o de Melhor Filme - por "Sargento Getúlio".
Fonte: Jornal do Brasil e Folha de São Paulo, 11/08



Cineclube volta à ABI de olho em estudantes

Um dos mais importantes cineclubes do Rio nos anos 1970, o cine ABI, da Associação Brasileira de Imprensa, volta à ativa a partir da terça-feira (07/08) com exibições semanais, sempre com a presença de algum membro da equipe do filme a ser exibido. Sessões de “Lara”, de Ana Maria Magalhães; curtas de Luiz Rosemberg Filho; e “A etnografia da amizade”, de Ricardo Miranda, já estão agendadas. Em junho, o pontapé inicial do Cine ABI foi dado com a exibição de “A paz é dourada”, longametragem sobre a vida do escritor Euclides da Cunha, do cineasta Noilton Nunes. Agora, a idéia é atrair estudantes universitários para o histórico prédio da Rua Araújo Porto Alegre.
Fonte: O Globo, 07/08

Tesouros da TV Tupi salvos mas ainda não recuperados

536 fitas com imagens raras de programas do início das transmissões televisivas no Brasil foram encontradas por acaso no prédio dos Diários Associados no Rio de Janeiro. São reportagens, talk-shows, musicais e programas esportivos exibidos nos anos 60 e 70 e em 1980 pela TV Tupi. Trata-se de um verdadeiro tesouro, na opinião do historiador Clóvis Molinari, coordenador de Documentos Audiviosuais e Cartográficos do Arquivo Nacional, já que quase tudo o que a televisão brasileira mostrou nos anos 50, 60 e 70 desapareceu. Como o material está em mau estado, a recuperação de 10% a 15% das fitas, já seria um milagre para o especialista. A fim de sensibilizar o público e possíveis patrocinadores, a instituição mostrou trechos de alguns deles, recuperados especialmente para a ocasião, durante uma edição do seu festival de cinema, o Recine. Para se ter uma idéia da importância do material, há imagens do presidente Juscelino Kubitschek sendo aplaudido na saída do casamento de uma parente, Ana Kubitschek; os primeiros nordestinos chegando ao Campo de São Cristóvão; Leonel Brizola discursando na Câmara dos Deputados; e as prostitutas da Vila Mimosa fechando janelas ao se verem flagradas pelas câmeras da Tupi.
Fonte: O Globo, 11/08

Um filme de família que recorda a trajetória do diretor de "São Paulo S/A"

Um "filme de família", assim pode ser definido "Person", documentário realizado por Marina Person sobre a vida e obra de seu pai, Luiz Sérgio Person, um dos mais importantes diretores brasileiros. A estrutura documental é formal, com imagens do arquivo familiar, cenas de filmes do diretor e depoimentos de amigos e parentes, mas a narrativa é a partir das lembranças que Marina tinha do pai, morto aos 39 anos, num acidente de carro, quando ela tinha apenas 7 anos. Diretor de "São Paulo S/A", Person retratou de forma única a cidade paulistana no filme que é a sua maior obra e até hoje único filme em formato DVD. Uma escassez que fez com que as novas gerações não conhecessem bem o cineasta e que agora o documentário espera resolver, junto com o lançamento pela Videofilmes de "Cassy Jones, o Magnífico Sedutor" e "O caso dos irmãos Naves", outros dois filmes do cineasta.
Fonte: O Globo, 09/08



Limite no Youtube

Está disponível no site Youtube, cinco fragmentos de uma das jóias do acervo do CTAv: Limite, de Mário Peixoto (1931, considerado a primeira e única referência para filmes brasileiros experimentais. Assista um dos fragmentos abaixo e Acesse aqui os outros 4 trechos do filme.

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