24 de março de 2007

"O Engenho de Zé Lins" de Vladimir Carvalho é destaque do É tudo Verdade 2007

O Engenho de Zé Lins
Dir. Vladimir Carvalho
Fotografia e Câmera:
Walter Carvalho
e Jacques Cheuiche
Brasil - RJ

80', cor, 35mm, 2006


Cinesesc (São Paulo - SP) - 28/03 - 21h00
Ccbb (Rio de Janeiro - RJ) - 01/04 - 21h00
Odeon br (RJ) - 24/03 - 19h30

Um perfil do escritor paraibano José Lins do Rego em que se interrelacionam a vida e obra, enfocando desde os tempos de sua infância no ambiente que imortalizaria em seus romances do ciclo da cana de açúcar até a maturidade e glória literária. Para que as novas e futuras gerações descubram esta ilustre figura humana. E para que todos celebrem o homem solidário e afetivo, amigo fiel e amante apaixonado pelas simples coisas da vida e das gentes do povo, Zé Lins.


Homenagem à Linduarte Noronha

Linduarte Noronha foi repórter e crítico de cinema antes de arriscar-se no documentário. Foi adaptando um texto jornalístico próprio que rodou seu curta-metragem de estréia, “Aruanda” (1960). Nunca mais o filme no Brasil seria o mesmo. “Aruanda” (foto) está para o moderno cinema brasileiro como “A Bagaceira” do também paraibano José Américo de Almeida está para nosso modernismo literário. O Nordeste, sua realidade, seus mitos, texturas, asperezas, locações e personagens, abria passagem – em 1960 como em 1928, nos filmes como nos livros.

“Aruanda”, ensina Noronha, quer dizer “terra de promissão”. O filme trata da fundação de um qui lombo de escravos fugidos na Serra do Talhado e revisita a região, quase um século depois, flagrando uma família camponesa que subsiste de algodão, plantado pelos homens, e cerâmica, obra das mulheres.

O então jovem critico baiano Glauber Rocha comparou-o ao Rossellini da aurora do neorealismo. Jean-Claude Bernardet o louva como “simultaneamente documento e interpretação da realidade”. Na década seguinte, o Cinema Novo e o documentário nacional aplicariam suas lições.

“Aruanda” originou ainda toda uma escola de documentários na Paraíba, a partir principalmente de companheiros de equipe de Noronha: Vladimir Carvalho, João Ramiro Mello, Rucker Vieira. O próprio Linduarte Noronha acabaria por realizar apenas dois outros filmes: o curta “O Cajueiro Nordestino” e, já nos anos 70, o longa-metragem “O Salário da Morte”, depois de uma tentativa frustrada de adaptar, claro, “A Bagaceira”.

Às vésperas do cinqüentenário da reportagem que originou “Aruanda” (As Oleiras de Olho d’Água na Serra do Talhado, 1958), o É Tudo Verdade celebra a contribuição renovadora de Linduarte Noronha. Este ciclo reúne os filmes por ele dirigidos, um retrato dele por outro mestre do documentário brasileiro (Geraldo Sarno), duas obras que contextualizam a Paraíba no ano de seu nascimento (1930) e dois curtas essenciais da escola paraibana. A força desse movimento se reafirma pela exibição hors-concours do novo documentário de Vladimir Carvalho, “O Engenho de Zé Lins”, um tocante retrato do escritor paraibano José Lins do Rego (1901-1957).


Ética e Documentário

Uma questão é crescentemente reconhecida como central para o documentário hoje: sua relação com a ética. No último “Visible Evidence”, Michael Renov sustentou não haver tema mais urgente. Em palestra recente, João Moreira Salles argumentou que o específico do documentário se encontra no terreno da ética.

Marina Goldovskaya (foto), em seu estupendo livro de memórias, lembrou como este debate foi acelerado com a chegada das câmeras 16mm e agora pelo digital. A mestre russa foi direto ao ponto: “Ética é ética pois não é regulada por lei; é uma questão de consciência. Consciência é muito pessoal e cada de um de nós determina o que é aceitável. Assim, a questão da ética no documentário é muito mais importante do que no cinema de ficção, no qual lidamos com modelos de todos os tipos se comportamento humano. Em documentários, temos reais situa ções, não modelos. Isso aumenta a responsabilidade do cineasta e as demandas sobre suas qualidades humanas”.

Não se esperem das discussões deste simpósio respostas prontas ou fórmulas. O essencial é ouvir as questões que tornam a ética uma preocupação crucial para a produção e o estudo do documentário hoje. Questões filosóficas e casos concretos serão abordados. Uma seleção de documentários busca complementar os debates.

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