Canções do Exílio - A labareda que lambeu tudo (2010) de Geneton Moraes Neto narra um dos períodos marcantes da carreira de Caetano Veloso e Gilberto Gil, quando foram exilados em Londres por quase três anos durante a ditadura militar, Na época eles estavam acompanhados por Jorge Mautner e Jards Macalé, que também são entrevistados no filme. O documentário é muito pessoal e mostra o fascínio e endeusamento do repórter da Globo (veja foto ao lado do repórter entrevistando Gil e Caetano nos anos 70) com os cantores em entrevistas intimistas e reconstituição histórica dos fatos sobre o período dos militares.
O filme tem um dos começos mais chatos e constrangedores que eu já tenha visto num documentário. Paulo Cesar Pereio em big close, quase babando, interpretando o texto em primeira pessoa do repórter, Geneton Moraes Neto, onde este declara a sua fascinação e tietagem com Caetano e Gil.
Noel Rosa Poeta da Vila e do Povo: Uma Reportagem Musical (2011) de Dácio Malta é um documentário sobre a curtíssima vida e obra fulgurante de Noel Rosa. Morto aos 26 anos ele produziu um sem número de obras musicais e se tornou uma das maiores referências da música brasileira.
Noel realmente mereceria um documentário mais apurado e com mais estilo. O filme se perde, com uma direção e uma edição trôpega. Excede no uso de legendas, muitas das vezes desnecessárias, como por ex, enquanto João Bosco está cantando aparece a legenda “João Bosco, cantor”! Pelo número bastante expressivo de imagens de arquivo, incluindo esta de Bosco, a legenda poderia nos informar dados mais relevantes, como a data e o lugar onde estas imagens foram feitas.
Dividido em partes temáticas, o filme oscila demais entre os assuntos que discute, e a edição peca nas elipses das entrevistas e das músicas. No quesito musical, o filme muitas vezes cai no marasmo e não apresenta momentos memoráveis ou históricos de shows ou de artistas que fizeram sucesso com as músicas de Noel.
A impressão que se tem, pela insistência e repetição de alguns depoimentos e imagens, é que a principal tarefa deste documentário não é celebrar a obra de Noel, mas provar a tese de que ele é um dos mais importantes compositores do Brasil, ou melhor, do mundo, como afirma um dos entrevistados. Não seria um pouco perda de tempo, já que sua obra é regravada sem cesse pelos artistas brasileiros? Assim, não podemos dizer que ele é esquecido ou desprestigiado!
O contestado restos mortais (2010) de Sylvio Back. Historiadores e populares (estilo talking-heads) contam os episódios da guerra do Contestado no interior do estado de Santa Catarina entre os anos 1912-16. Intercalado aos depoimentos estão sessões espíritas com os médiums incorporando os participantes da guerra, agonizando com a dor de suas mortes.
Um filme que em geral não se adequa a qualquer público por dois motivos básicos: a história é muito local e excessivamente falada. Isto se torna ao longo de duas horas de filme, muito cansativo para o público acompanhar os vais-e-vens desta história-intrincada e repleta de informações.
O assunto é muito interessante e historicamente importante, principalmente no diálogo entre Canudos e Contestado, onde se confundia militarismo e religiosidade, república e monarquia celestial. No entanto, as intercessões “espíritas” chegam a ser constrangedoras quando colocadas lado-a-lado com os depoimentos de inúmeros historiadores entrevistados, onde reconstituem os fatos-históricos.
Quem se importa (2010) de Mara Mourão é um documentário sobre os empreendedores sociais de organizações não-govermentais de várias partes do mundo.
Muitas histórias interessantíssimas de empreendedorismo social no mundo, incluindo várias no Brasil. No entanto, a forma inicial é daqueles infomercial (estilo lavagem cerebral) sobre pobreza e ajuda humanitária sem um conteúdo bem tratado e uma história bem construída. O assunto é super importante e atual sobre os empreendedores sociais, mas a forma é amadora e as histórias privadas dessas pessoas (o que é mais interessante no filme), somente vai aparecer do meio para o final do filme. Enquanto isto, durante quase uma hora, o público é “bombardeado” por imagens clichés e fórmulas piegas sobre globalização e o fim da humanidade. O tom do narrador off é moralista, piedosa e generalista; e, a edição de imagens é simplista assim como a trilha sonora é over, dramática e clichê, o que esvazia a imagem de sentido.
Hudson Moura
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