20 de outubro de 2006

Cinematografia Filipina renova a potencialidade do digital

O digital se tornou um meio pelo qual emergem novas cinematografias e, ainda, novas expressões técnico-audiovisuais. O cinema filipino é prova desta conquista do digital no meio cinematográfico, tanto da sua criatividade quanto da sua versatilidade imagética. Nas periferias de Manila prolifera um cinema onde o DV se torna o meio de sobrevivência com bastante dinamismo de produção, sempre presente nos festivais internacionais.

Ele se apoia num cinema do tipo de balada, uma câmera ágil e leve em constante movimento, que consegue acompanhar os personagens nos guetos das favelas e fazer desfilar pequenos dramas e ações com uma força, raramente vista no cinema brasileiro, por exemplo. Baixo custo e senso de oportunismo na utilização de longos planos-seqüências como se fosse possível captar nos pequenos gestos imprevistos e improvisados, diante da câmera, a vida que se desenvolve, reage e interage com a própria história da periferia.

No ótimo A Cobradora de Apostas (Kubrador, dir. Jeffrey Jeturian - destaque da 30o. Mostra de Cinema de São Paulo) a câmera acompanha o ir e vir de Amy (Gina Pareño) – a cobradora do título – nas favelas de Quenzo coletando apostas e aconselhando os apostadores como num jogo do bicho nas favelas cariocas. Já no excelente The Blossoming of Maximo Oliveros (dir. Auraeus Solito)
 a câmera acompanha Max, um menino de 12 anos nas favelas de Manila, que nutre uma paixão por um policial do bairro, em oposição à família, pai e irmãos, todos ligados a pequenos crimes e furtos. Max substitui literalmente a mãe falecida, tanto nos afazeres domésticos, quanto na figura feminina da casa. A homossexualidade de Max não somente é respeitada pela família quanto protegida e completamente incorporada. Não existe desaprovação, discussão ou desconforto, algo raro de se ver na maioria de filmes que retratam o tema.

Em Todo Todo Teros (dir. John Torres) – ganhador do prêmio Dragões e Tigres do 25o. Festival de Vancouver – o approch é completamente diferente do tipo de cinema narrativo, e se aproxima muito mais ao cinema experimental, especialmente ao universo do documentarista-mito do cinema francês Chris Marker (La Jetée, Level 5). Torres faz uma espécie de colagem entre o documentário e a ficção, entre o drama e o diário-filmado, misturando amor com política. O resultado é caótico e muito instigante, trazendo à tona discussões e assuntos controversos e inesperados, como o de que todo artista filipino é um terrorista. Torres desvenda uma outra Manila, longe dos romances melodramáticos e tragicômicos das telenovelas (um gênero que impera nesta ex-colônia espanhola), mas um país fragilizado por uma situação política instável e difícil. O diretor abusa dos recursos da câmera digital o que fragmenta ainda mais a narrativa do filme. Bons momentos acabam se sobressaindo como o efeito persiana na imagem, de uma câmera que acompanha dois “espiões”. Todo Todo Teros é mais uma prova que dinheiro não é sinônimo de inventividade artística. (Hudson Moura)

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