por
André Cruden
Eu posso contar a minha história através das mortes que permearam meu caminho. A de meu avô aos dez, a de meu tio aos doze, a de meu irmão ao quinze, a de meu primo aos vinte, a de minha mãe aos 25.
É estranho o silêncio que se coloca e a voz que ecoa lúcida, límpida e onipresente. Fulano morreu, está morto. Um discurso ao mesmo tempo racional e emotivo. Repetido sem parar. E fulano parece também morrer repetidas vezes, a cada momento que essas palavras ressoam.
Talvez seja assim o discurso da morte, tão implacavelmente racional quanto humanamente impensável. O fim do corpo é também o fim de uma vida. Esta, a da terra.
Isto é o mais impressionante quando se fala da morte. Ela é natural, pois pertence ao ciclo da vida, portanto algo mais saudável e harmonioso não existe. Ela é desumana, pois tira um ente querido da nossa convivência, portanto nada mais cruel e perverso.
A morte tem essas duas faces. A dualidade lhe pertence. Entretanto, o mais irredutível é, sobretudo o ato de morrer. Incompreensível. Impresenciável.
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8 de dezembro de 2006
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