O projeto engloba Mostra de Arquivo “Obras Raras”; Mostra Competitiva de produções audiovisuais atuais, com 29 filmes; um Catálogo com a produção cinematográfica capixaba da década de 20 aos anos 2000, além de uma Coleção de DVDs com os filmes e vídeos selecionados para a Mostra. Os cineastas Joel Barcellos (foto) e Ramon Alvarado estarão em Vitória (dia 15/8) para participar da mostra.
No primeiro dia da mostra, fragmentos de filmes capixabas de 1920 a 2000 serão exibidos, com trilha sonora composta e executada ao vivo pela banda Solana. Ao longo dos cinco dias haverá também debates, homenagem a dois atores – Paulo DePaula e Branca Santos Neves – e, claro, exibição de filmes raros e atuais. A realização é da Associação Brasileira de Documentaristas e Curtas-Metragistas – seção Espírito Santo (ABD&C/ES), com patrocínio da Secretaria de Cultura de Vitória e da Secretaria de Cultura da Ufes. A ABD&C capixaba é uma associação de realizadores de cinema e vídeo coligada às outras 26 existentes no Brasil.
Tempo e memória
Saskia Sá, presidente da ABD&C-ES, explica que o sentido de “A vida é curta” traduz não só a exibição de curtas locais como também desperta a reflexão sobre o tempo e a memória do cinema capixaba, desde Ludovico Persici (anos 20), passando por Batan (anos 30), o cinema da resistência de Joel Barcellos, Paulo Torre, Luiz Tadeu Teixeira, entre outros, dos anos 60-70, até os atuais como Ricardo Sá e Luíza Lubiana. “Vamos apresentar o que restou da História cinematográfica capixaba, de forma cronológica, na Mostra Obras Raras”, diz Saskia. Dos anos 60, por exemplo, não existem mais cópias nem negativos dos filmes de Toninho Neves e de Ramon Alvarado, só para citar alguns.
Saskia avalia que “temos diversidade audiovisual e queremos que as novas gerações tenham contato com o cinema de outras décadas”. Outra novidade: a partir desta edição, todos os filmes da Mostra Competitiva serão reunidos e editados em formato DVD, uma forma de preservá-los para outras eras e gerações.
“Obras raras”
Com a Mostra “Obras Raras” pretende-se levantar debates sobre restauração, acesso e criação de um acervo histórico, além da distribuição dos produtos audiovisuais locais. Para o coordenador da Mostra Obras Raras, Ricardo Sá, a relevância é proporcional ao desconhecimento que o público tem sobre a história. Afinal, quase um século se passou desde que Ludovico Persici registrou os primeiros registros de que se têm notícia.
Segundo pesquisa da jornalista Patrícia Bravin, “Ludovico Persici entra para a história do cinema capixaba como o primeiro a produzir imagens em movimento no Estado”. Mais do que registrar cenas do cotidiano dos anos 20, produziu e dirigiu um filme de ficção, que pode ser o pioneiro do gênero faroeste no país (Bang bang), conforme Alex Viany, um dos maiores críticos de cinema do Brasil. E mais: Persici usou uma câmera que ele mesmo inventou, utilizando peças de gramofone e de relógios velhos: o “Apparelho Guarany” (sic), com centenas de engrenagens. Bravin explica: “As caixas, por onde passavam as fitas de filme, foram desenvolvidas com antigas latas de manteiga. O equipamento reunia quatro funções: filmar, projetar, copiar e medir o filme. Todas as ações podiam ser executadas com um único mecanismo motor, acionado manualmente ou por força motriz”.
Luiz Gonzales Batan, pai de Ramon Alvarado, é outro nome de destaque na mostra das raridades. Seu filme "Vitória", de 1935, captado em 16mm, que anos depois foi reeditado por seu filho Ramon Alvarado com o título "Um belo dia", estará em cartaz.
Já, nos anos 60, surgiram os cineastas políticos e revolucionários como Ramon Alvarado (O mastro de Bino Santo), Paulo Torre (Kaput) e Luiz Tadeu Teixeira (Ponto e vírgula), entre outros. Foi quando aconteceu o primeiro e único Festival de Cinema Amador Capixaba, produzido por Milson Henriques, em 1967.
Na década de 70, o Espírito Santo teve ainda algumas experiências com longa-metragem (35 mm). Entre os diretores da época, pode-se citar Joel Barcellos (Paraíso no inferno). Dos anos 80, a mostra das raridades exibe "Sinais de fascismo", de Sérgio de Medeiros, "Passo a passo com as estrelas", de Marcel Cordeiro, entre outros.
Seguindo a ordem cronológica, nos anos 80, os documentários também ganharam força com trabalhos de Orlando Bomfim e Ramon Alvarado. Nos anos 90, os longas-metragens ganharam visibilidade: Sergio Rezende dirige "Lamarca", Paulo Thiago "Vagas para moças de fino trato", enquanto Amylton de Almeida dirigia "O amor está no ar" – os três com recursos do Bandes –, época em que tanto se badalou o pólo estadual de cinema.
Tanto a Mostra “Obras Raras” quanto o Catálogo envolveu pesquisa em cinematecas, arquivos públicos, entrevistas com realizadores e pesquisadores de cinema. Com essa iniciativa, a ABD-ES pretende recuperar a memória audiovisual do Estado. A idéia é desenvolver políticas específicas para a preservação do patrimônio cinematográfico, além de construir parcerias de novos produtos ou eventos, que se tornem referência para pesquisadores, estudantes, empresários e amantes da sétima arte.
Mostra competitiva
Vinte e nove filmes estão selecionados para a mostra competitiva. As cinco melhores obras serão premiadas, quatro das quais pela comissão julgadora e uma pelo Júri Popular, informa a coodenadora Ursula Dart. A diversidade de múltiplas experiências marca a Mostra Competitiva deste ano. Há desde filmes frutos de oficinas, como os da Oficina Geração, realizações de universitários até os de profissionais mais experientes como Cloves Mendes (Costa Pereira), Ricardo Sá (Enquanto houver fantasia), Luiz Tadeu Teixeira (O ciclo da paixão), além de alguns premiados como Virgínia Jorge (No princípio era o verbo)(foto), Erly Vieira Jr e Fabrício Coradello (Saudosa).
Contatos: Linda Kogure
(3345-7573 e 9944-4130)
(3345-7573 e 9944-4130)
Programação
14 de agosto – terça-feira
19 h – Mostra “Obras Raras” Abertura19h30 – Exibição de montagem de trechos de filmes capixabas de 1920 a 2000 com execução de trilha sonora do grupo "Solana".
20 horas – Debate - Mesa: “Panorama da produção cinematográfica capixaba" com Carla Osório, Milson Henriques, Nenna B, Patrícia Bravin, João Barreto, Luiz Cláudio Ribeiro. Lançamento do catálogo
21 horas – Mostra Competitiva
Manada, de Luiza Lubiana, 12’, 2005 – 35mm
Sinopse: Moça acorda desmemoriada em uma praia deserta. Ouve tambores. Corre até o som e encontra o amor.
O Pé redondo, de Maurício Junior, 25’, 2007 - DVD
Fluxo, de Felipe Dall’Orto, 6’, 2006 - DVD
Auto Vitrato, de Maria Ines Dieuzeide, 2’, 2007 - DVD
Entre Pedras e Pássaros, Oficina Olhares do Mundo, 20’, 2006 - DVD
Costa Pereira, de Cloves Mendes, 35’, 2007 - DVD
15 de agosto - quarta-feira
19 horas – Mostra “Obras Raras”
Vitória em marcha, de Júlio Monjardim, 10', 1953 - 16mm
Kaput, de Paulo Torre, 12’, 1967 - DVD
O Mastro de Bino Santo, de Ramon Alvarado, 10’, 1971 - DVD
Ponto e Vírgula, de Tadeu Teixeira, 6’, versão 1979 - DVD
Itaúnas, desastre ecológico, de Orlando Bomfim, 8’, 1979 - 16mm
20 horas – Debate - Mesa: “Por uma memória do cinema capixaba” com Anna Saiter, Joel Barcellos, Luiz Tadeu Teixeira, Ramon Alvarado, Orlando Bomfim e Ricardo Sá como mediador.
21 horas – Mostra Competitiva
No princípio era o verbo, de Virgínia Jorge, 18’, 2005 - 35mm
Sinopse: É uma fábula composta por três estórias que se fundem num vai e vem lírico e bem humorado, procurando refletir sobre o conceito de verdade e nossa busca pelas explicações de fenômenos cotidianos.
O interrogatório, de Gui Castor, 8’, 2007 - DVD
Em busca do ZZZ, de Luiza Lubiana e Jean R., 8’, 2001 - DVD
Eve, de Sem-Tao Park, 3’, 2006 - DVD
Dona Maria, muito prazer, de Iza Rosemberg e Marcela Biazatti, 5’, 2006 - DVD
Os arquivos secretos de Amylton, de Hudson Moura, 55’, 2005 - DVD Sinopse: O crítico e diretor de cinema Amylton de Almeida deixa cinco cartas escritas e guardadas em segredo em função da gravidade de sua saúde. Os arquivos secretos de Amylton colhe depoimentos dessas cinco pessoas (Irá de Almeida, Mariléia de Almeida, Jeanne Bilich, Sidemberg Rodrigues e Nelmir Schneider) dez anos depois. O filme alterna as entrevistas com trechos dos filmes mais importantes da carreira do cineasta. Direção: Hudson Moura. Assistente de direção: Suely Soares. Imagens e edição: Ronaldo Rosemberg (Caxote).
23 horas - Sessão Especial “Obras Raras”
Paraíso no inferno, de Joel Barcellos, 72’, 1977 - 35mm
16 de agosto - quinta-feira
19 horas – Mostra “Obras Raras”
Refluxo, de Sérgio de Medeiros, 33’, 1986 - DVD
Rendam-se terráqueos, de José Antonio Chalhub, 11’, 1984 - DVD
Éden Dionisíaco, direção coletiva, 5’, 1987 - DVD
Janelas, de Ricardo Nespoli, Renzo Pretti e Lu Aurich, 12’, 1987 - DVD
20 horas - Debate - Mesa “O vídeo como expressão de movimento coletivo nos anos 80”. Com Cleber Carminatti, José Antônio Chalhub, Ernandes Zanon, Ricardo Néspoli e Saskia Sá, e Rosana Paste como mediadora.
21 horas – Mostra Competitiva
O evangelho segundo Seu João, de Eduardo Souza Lima, Leonardo Gomes e João Moraes 17’, 2006 - 35mm
Saudosa, de Erly Vieira Jr e Fabrício Coradello, 15’, 2005 - 35mm
Sinopse: Nem tudo em Saudosa é ficção. A protagonista é uma cozinheira e poetisa de uma cidade do interior, que teve um caso de amor com um menino de 12 anos, verdadeiro muso de seus versos.
Shuma, de Patrick Reis, 6’, 2003 - DVD
Edmilson, Negão, de Jair Campos, 18’, 2006 - DVD
Sinopse: Narra vida e morte de Edmilson Candido Rosário, o contraventor que desafiou a sociedade e o poder público nos anos 80. As entrevistas relatam fatos que levaram Edmilson a ser comparado ao lendário Robin Hood pela população das favelas da época. Um dos entrevistados do documentário é o veterano jornalista Pedro Maia.
Maia, de Orlando Lemos e Gui Castor, 5’, 2006 - DVD
Batei, lavadeiras! Batei!, do Instituto Geração, 10’, 2006 - DVD
Nicole, de Gabriel Perrone, Gui Castor, Nicholas Augusto Baeta Costa, 22’, 2007 - DVD
23 horas - Sessão Especial “Obras Raras”
Sinais de Fascismo, de Sérgio Medeiros, 78’, 1980 - DVD
17 de agosto - sexta-feira
19 horas – Mostra “Obras Raras”
Solidão Vadia, de Ricardo Sá, 17’, 1996 - 16mm
A Lenda de Proitnier, de Luiza Lubiana, 21’, 1994 - 16mm
Passo a passo com as estrelas, de Marcel Cordeiro, 19', 1995 - 16mm
20 horas – Debate - Mesa “Perspectivas de produção e difusão para o audiovisual capixaba” com Luiza Lubiana, Luciana Vellozo, Margarete Taqueti, Solange Lima, Claudino de Jesus e Saskia Sá como mediadora.
21 horas – Mostra Competitiva
O ciclo da paixão, de Tadeu Teixeira, 15’, 2001 - 35mm
Enquanto houver fantasia, de Ricardo Sá, 30’, 2007 - 35mm
Sinopse: paródia da série de TV A ilha da fantasia, desta vez ambientada na capital do Espírito Santo. Narra a visita de 2 adolescentes que se envolvem numa aventura macabra e acabam libertando a ilha de uma maldição ecológica. Cinema de bordas.
Último andar, de Yuri Viana, 10’, 2006 - DVD
Se correr o bicho pega, se ficar o bicho vende, do Grupo Olho da Rua, 4’, 2006 - DVD
Cave Canem, de Heraldo Ferreira, Hugo Reis, Marijana Mijoc, Maria Ines Dieuzeide, 3’, 2007 - DVD
Hora do almoço, de Thiago Coutinho e Jirlan Biazatti, 2’, 2007 - DVD
Esteriótipos, de Rodolfo Geraldo Pinto, 1’, 2007 - DVD
E aí?, de Thiago Coutinho, 4’, 2006 - DVD
Mundo marrom, de Rafael Bazilio e Walcleyber Silva, 12’, 2006 - DVD
Cine Alba – A última sessão, Instituto Geração, 14’, 2006 - DVD
Sinopse: Documentário sobre o Cine Alba, de Baixo Guandu, fechado em meados dos anos 90. Era o principal agente cultural da região noroeste do Espírito Santo, fronteira com Minas Gerais.
23 horas - Sessão especial “Obras Raras”
A morte da mulata, de Marcel Cordeiro, 104’, 2002 - 35mm
18 de agosto – sábado
19 horas - EncerramentoLeitura da Carta de Vitória
Homenagem aos atores capixabas Paulo DePaula e Branca Santos Neves
Lançamento da coletânea de DVD’s Premiação da Mostra Competitiva
21 horas –Lançamento do filme A fuga, de Saskia Sá, 17', 2007 - 35mm
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