11 de outubro de 2009

Baião de Dois: Teixeira e balairinos da favela marcam a presença brasileira no Festival de Cinema de Vancouver


A arte brasileira como de praxe é presença garantida no Festival Internacional de Cinema de Vancouver (VIFF). São dois documentários "artísticos", o primeiro produzido pela atriz Denise Dumont sobre a música popular brasileira e o segundo de uma documentarista estrangeira que acompanhou dois jovens balairinos da favela do Rio de Janeiro em competições mundiais.

O homem que engarrafava nuvens (The Man Who Bottled the Clouds), dirigido pelo pernambucano Lírio Ferreira (Baile Perfumado, Árido Movie e Cartola), é uma aula sobre música popular brasileira ao mesmo tempo que um corajoso depoimento de Denise Dumont. "Eu não conhecia meu pai"--diz a atriz no início do documentário andando pelos corredores de um cemitério. Seu pai para espanto de muitos foi nada menos que o autor de Asa Branca--um dos hinos do repertório musical popular brasileiro--Humberto Teixeira (que todos nós conhecemos!). O filme faz toda uma viagem musical sobre a ascendência do baião na música popular através dos acordes de Teixeira e a voz de Luiz Gonzaga nos idos 30 e 40 até os dias hoje. Vários cantores brasileiros (Os Mutantes, Bebel Gilberto, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia, etc.) e estrangeiros como David Byrne reinterpretam os clássicos de Teixeira, enquanto que paralelamente, aos poucos, e cronologicamente, vamos conhecendo mais sobre a história do baião e a consagração mundial desse estilo da música sertaneja. No entanto, fica para o final o grande desabafo e talvez a razão do documentário, Dumont em depoimentos emocionados, especialmente aquele ao lado da mãe, fala da vida boêmia do pai e a consequente ausência em sua vida. Mas se você não conhece Dumont ou se você não tem curiosidade histórica, regale-se com as sequências musicais que Lírio Ferreira e o diretor de fotografia Walter Carvalho fazem desfilar com elegância e maestria na tela.


Elegância talvez seja a palavra que defina o documentário Só Quando Eu Danço (Only when I dance) da diretora Beadie Finzi. Ela acompanha com delicadeza e bastante "zelo" a ascenção de dois jovens bailarinos--Isabela dos Santos e Irlan Santos da Silva--da favela carioca Complexo do Alemão aos palcos de competições internacionais na Europa e nos Estados Unidos. Ambos talentosos mas com sérios problemas financeiros, eles precisam serem os melhores para poderem compensar todo o esforço e empréstimos que os pais fazem para arcar com o sonho dos filhos. Bastante emocionante pelo lado brutal que a grana se torna um obstáculo para o futuro desses jovens, o filme nos deixa levar pelo drama humano de bastidores que cerca toda e qualquer competição. Talvez o filme peque um pouco pelo excesso de zelo, e por isto perca um pouco o equilíbrio, justamente naquela linha tênue que separa um documentário (da mesmice) de uma reportagem de televisão. Afinal, em tempos digitais, a diferença entre uma mídia e outra é bastante subjetiva. Será que o HDCAM (Câmera digital de alta definição) tem a sua parte nesta história?

Enquanto a cena de abertura é o bailarino Irlan dançando na laje de sua casa com a favela de fundo, na cena final não poderia ser diferente, o mesmo jovem dança no alto de um edifício em meio aos arranha-céis de Nova Iorque.
Hudson Moura

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